Segunda, 07 de agosto de 2017

Felicidade mínima

E se, de repente, você não tivesse função social, não pudesse mais ser treinado para nada de relevante?

Roberto Francisco de Souza - redacao@revistaecologico.com.br



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Roberto Francisco de Souza é CEO & Evangelist da Kukac Plansis, fundador do Arbórea Instituto

Roberto Francisco de Souza é CEO & Evangelist da Kukac Plansis, fundador do Arbórea Instituto

Vamos imaginar assim: uma cena apocalíptica, o mundo acabado e milhares de pessoas vagando pelas ruas, sem ter o que fazer, mas ainda sentindo fome e todas as necessidades de um algoritmo humano.

É isso o que dizem, e digo também, que vai acontecer se não cuidarmos, se não pensarmos com a mais absoluta seriedade sobre a revolução que surge das telas que programam algoritmos não biológicos, bots para fazer o trabalho que muitos, mas muitos mesmo, de nós temos feito.

Dizem que eles estão vindo. Eu digo que já chegaram. Mas não vou polemizar sobre o tempo do verbo. Quero falar de solução. São as paixões ideológicas que dominam o cenário quando se fala de trabalho e renda. Os capitães da indústria dos bits tomam posição em suas trincheiras. O resumo é taxar todo empregador que der guarida a robôs com impostos que tornem inócuo todo ganho de produtividade, certeiro eu diria, que vier de mãos inumanas.

Países se posicionam. Especialmente a Finlândia, que está conduzindo projetos de renda mínima, um valor pago a uma população de teste, independentemente de retorno, para simplesmente não fazer nada.

Eu defendo essa ideia da renda mínima. Mas toda ideia precisa de circunstância. De um lado, o debate alardeia precocemente seus resultados. Leio que o projeto finlandês de renda mínima está dando errado, leio que está dando certo. É preciso calma nessa hora.

Recentemente, o ator Pedro Cardozo, morando em Portugal, respondeu uma pergunta provocativa: por que é bom morar em Portugal? Olhando que este não é destaque no ranking de qualidade de vida internacional, mas vai dando seus bons pulinhos, Pedro respondeu que “é muito bom morar num país onde não é preciso tornar-se rico para viver”. Uma clareza de fazer inveja.

Países como Finlândia, Portugal, Suécia, Japão e Dinamarca têm em comum uma base, maior ou menor, de bem-estar social. São pequenos, mas eficazes exemplos de como é mais barato viver nesses lugares, usufruindo de boa escola pública, saúde para todos, lazer e transporte. Eles têm problemas, é claro, quem dera fossem esses os do Brasil...

Sim! A renda mínima começa aí. Começa quando um governo gasta a esmagadora maioria do que arrecada com seu povo e lhe dá condições de não precisar sonhar com a riqueza para achar que vai ser feliz. Renda mínima não é para ser gasta com as obrigações do Estado. É renda mesmo, a parte dela sobre a qual o cidadão decide o que fazer.

Chame minha posição do que quiser. A natureza me proveu uma cabeça grande e pode-se colar pechas em minha testa, sem maior esforço. Não estou falando de posições ideológicas. Estou falando de fatos! Estou constatando que os robôs estão rindo de nós, nos vendo de longe, batendo cabeça em nossa frente de batalha, sem qualquer organização para sobrevivermos no mundo. Eles não entendem por que não priorizamos o que é essencial ao ser humano, a felicidade mínima.

Eles nos acham tão incompetentes que, no jogo que agora ganham de lavada, seu treinador está aos berros, na beirada do campo:

- Não precisam se defender! Ataquem! Esses humanos, a natureza marca...

 

Tech notes:

- Entenda o projeto da Renda Básica Universal 

- Conheça outros países que estão testando o modelo 

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