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Segunda, 06 de novembro de 2017

Os aliados da responsabilidade social

Carolina Proietti Imura (*) - redacao@revistaecologico.com.br



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O monitoramento possibilitou adequações como a inclusão/exclusão de cursos e escolas, ações para controle da qualidade dos cursos ofertados e até a adequação pagamentos realizados pelos governos às escolas. Foto: Geraldo dos Anjos

O monitoramento possibilitou adequações como a inclusão/exclusão de cursos e escolas, ações para controle da qualidade dos cursos ofertados e até a adequação pagamentos realizados pelos governos às escolas. Foto: Geraldo dos Anjos

Em tempos de recursos escassos e problemas complexos, a necessidade de ser mais assertivo nos investimentos, nas estratégias e desenhos de políticas ou projetos sociais torna-se ainda mais relevante. É aí que entram em cena o monitoramento e a avaliação, possibilitando acompanhar processos e resultados, corrigir rumos e tomar melhores decisões, além de prestar contas à sociedade sobre os benefícios alcançados.

Não existe um único método ou formato para realizar o monitoramento e a avaliação de uma política, programa ou projeto; as metodologias variam de acordo com a natureza daintervenção, o tema, os grupos envolvidos e também os recursos (humanos, materiais e tecnológicos) e capacidades das instituições responsáveis por implementar as iniciativas.

Por exemplo, em um projeto que acontece em comunidades ribeirinhas do Vale do Jequitinhonha, talvez seja mais difícil utilizar sistemas de monitoramento que envolvam muitos aparatos tecnológicos. Por outro lado, a capacidade tecnológica de alguns povos indígenas no Amazonas pode favorecer o uso de sistemas de monitoramento mais complexos. No estado de Minas Gerais, para mapear famílias em situação de pobreza em áreas distantes de centros urbanos, a Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social tem utilizado imagens por satélite, estratégia que vem se mostrando mais eficaz do que recenseamentos.

 

MONITORAR NÃO É FISCALIZAR

Assim como o diagnóstico e o planejamento são peças-chave de qualquer iniciativa - é preciso saber o que se quer atingir; como; quem será responsável por qual ação - também é preciso monitorar se o que foi planejado está sendo colocado em prática, ou quais obstáculos aparecem no meio do caminho. Isso evita que apenas ao final de um projeto

perceba-se que as estratégias utilizadas não contribuíram para atingir o resultado esperado. As estratégias de acompanhamento sistemático também ampliam o comprometimento das equipes com o trabalho, valorizando as ações de cada setor da organização, e também contribuem para uma melhor percepção dos beneficiários sobre o serviço ofertado.

“No município de Belo Horizonte, que vem implementando o monitoramento dos balcões de atendimento ao público, os cidadãos identificam imediatamente as melhoras”, comenta o secretário de Planejamento da prefeitura, André Reis.

Apesar de todos os benefícios que as práticas de monitoramento trazem, ainda há muita resistência em implementá-las, talvez porque no caso das políticas públicas esse termo esteja associado ao controle sobre os recursos utilizados e prazos cumpridos. Como se monitoramento fosse simplesmente uma fiscalização, com o intuito de checar irregularidades.

De fato, essas são informações importantes e devem ser consideradas em um processo de monitoramento, mas não são as únicas variáveis a se considerar. Em um projeto que prevê a capacitação de mulheres que vivem no sertão, por , é preciso saber quantas estão conseguindo comparecer às aulas; onde vivem; que dificuldades enfrentam no transporte até o local do curso. Ao final do projeto, ter um bom banco de dados com todas as informações sobre estas mulheres, que possibilite o acompanhamento do que elas realizaram depois da intervenção, também é muito importante.

Sem monitoramento, os processos avaliativos ficam prejudicados, afinal necessitam de informações que nem sempre são fáceis de rastrear ao términode um projeto ou política. No caso do monitoramentoque vem sendo implementado nos balcões de atendimento em Belo Horizonte, o secretário André Reis destaca que outro benefício é a possibilidade de redistribuir os serviços de acordo com as demandas e capacidades de cada equipamento.

Outro exemplo de monitoramento foi o realizado para os programas de educação profissional dos estados de Minas Gerais e São Paulo, o PEP e VENCE, respectivamente. Com a adoção de técnicas qualitativas e quantitativas associadas a um sistema de gestão da informação online, foi possível acompanhar os grandes marcos de execução dos programas, como matrículas, frequência e desempenho dos alunos, infraestrutura das escolas, pagamentos, entre outros. O monitoramento possibilitou adequações como a inclusão/exclusão de cursos e escolas, ações para controle da qualidade dos cursos ofertados e até a adequação dos pagamentos realizados pelos governos às escolas.

 

O SENTIDO DA AVALIAÇÃO

Se a palavra monitoramento já gera resistências, avaliação é outro termo ainda mal visto ou, pelo menos, temido por boa parte das pessoas. Muitas vezes, associa-se avaliação a uma punição, a apontar os dedos e jogar luzes sobre erros e deficiências.

Esta é uma visão distorcida, afinal o interesse maior de um processo avaliativo é identificar os resultados alcançados e procurar compreender, dentre as mudanças identificadas, aquelas que foram realmente causadas por determinada intervenção social. Esse processo nem sempre é simples, como comenta a Gerente de Planejamento Socioambiental da Vale, Flávia Soares.

Em projetos com maior duração, que já nascem com uma concepção mais assertiva e que preveem uma duração suficiente para que se observem mudanças em indicadores de saúde, educação ou geração de renda, ela aponta “que é mais fácil ter clareza sobre os resultados esperados e de que forma a intervenção planejada levará a estas mudanças”. Já nos casos de projetos executados paracumprir as condicionantes de um licenciamento ambiental, como os prazos são menores, os esforços de avaliação são mais complexos, para possibilitar que se compreenda qual foi de fato a contribuição do projeto nas mudanças observadas em determinada comunidade.

 

QUEM DEVE CUIDAR DO MONITORAMENTO E DA AVALIAÇÃO?

Idealmente, o monitoramento e a avaliação devem fazer parte do cotidiano e dos processos de instituições e empresas. Mas nem sempre há recursos - humanos ou técnicos - para realizar este trabalho, que pode então ficar a cargo de consultorias especializadas. Sobretudo no caso da avaliação, é importante garantir um olhar externo, mais isento, para aquilo que está sendo avaliado.

Isso pode gerar resistências entre as equipes envolvidas em determinados projetos, pois podem sentir-se vigiadas, avaliadas em sua capacidade de trabalho. Por outro lado, a contribuição externa pode ser vista como uma oportunidade de aprendizado, crescimento e melhoria daquilo que está sendo realizado. No caso do monitoramento feito por agentes externos, é uma maneira de garantir que alguém esteja cuidando das ações de  monitoramento mesmo quando os profissionais executores estão ocupados com as tarefas do projeto a ponto de não conseguirem realizar momentos de parada e reflexão.

Outro desafio para a adoção de uma cultura de monitoramento e avaliação é a produção de dados e informações. Sem eles, émuito difícil fazer qualquer tipo de análise ou acompanhamento.

Estes dados e informações nem sempre devem ser sofisticados, complexos, mas é importante que haja alguma maneira de produzi-los, centralizá-los e analisá-los. Mais uma vez, o apoio de pessoas externas, seja na produção de indicadores, sistemas de acompanhamento, ou seja, no aconselhamento sobre as melhores práticas e métodos de monitoramento e avaliação, é crucial. Como destaca o coordenador de M&A da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social de Minas Gerais, Wesley Matheus, é preciso cautela, pois vivemos numa era de valorização dos dados, mas o importante mesmo é dar conta de aspectos mais simples: garantir que sejam produzidos bons dados, de qualidade, que tenham sentido para quem utilizará a informação.

 

DIFERENTES MOMENTOS

Ainda que o monitoramento e a avaliação se complementem, eles podem acontecer em momentos diferentes de um projeto, política ou intervenção social. O ideal é que o monitoramento seja iniciado assim que o projeto sair do papel.

Já a avaliação pode acontecer antes do projeto começar (para revelar como estava determinada situação antes da intervenção), durante (intermediária), e/ou depois, para identificar resultados e impactos. No citado exemplo das políticas de oferta pública de cursos técnicos, os dados da avaliação do programa de Minas Gerais foram utilizados para desenhar o programa do estado de São Paulo, que já planejou, desde o começo, seu processo de monitoramento e avaliação.

 

*Consultora da Herkenhoff & Prates e diretora da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação (RBMA).

Saiba mais

Estreitando o diálogo sobre M&A
 
Recentemente Belo Horizonte foi palco de mais uma edição do evento "Diálogos Transversais," que reúne organizações sociais, empresas e instituições públicas para trocar experiências sobre monitoramento e avaliação. O encontro tem o DNA da Herkenhoff & Prates, empresa que há mais de 30 anos realiza consultorias com foco no monitoramento e avaliação de projetos e políticas públicas em diversas áreas. Nos últimos anos, a equipe desta consultoria vem buscando fortalecer a agenda de monitoramento e avaliação
no estado de Minas Gerais.
 
Promovendo intercâmbios de conhecimento, aproximando-se da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação; e, dessa forma, contribuindo para que M&A façam cada vez mais parte das práticas das instituições.
O evento contou com o apoio do Clear Latino Americano e da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação. Na data foram compartilhadas as experiências da Vale, do Governo do Estado de Minas Gerais, da Prefeitura de BH, da Universidade Federal de Ouro Preto, da sociedade civil (blogs Leis e Números) e da própria Herkenhoff & Prates. Para saber mais, acesse hpconsultores.com.br.

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