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Segunda, 06 de novembro de 2017

Suprassumos Naturais

Matéria-prima importante para as indústrias farmacêutica, cosmética e alimentícia, óleos essências, também são usados em práticas terapêuticas , como a aromoterapia

Luciana Morais - redacao@revistaecologico.com.br



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Em Minas Gerais, pesquisas da Epamig atestam a eficácia da aplicação de óleos e
extratos vegetais no controle de pragas em diferentes culturas. Na Ufla, estudo em
fase inicial prevê seu uso no desenvolvimento de novos larvicidas naturais

Em Minas Gerais, pesquisas da Epamig atestam a eficácia da aplicação de óleos e extratos vegetais no controle de pragas em diferentes culturas. Na Ufla, estudo em fase inicial prevê seu uso no desenvolvimento de novos larvicidas naturais

Em Minas Gerais, pesquisas da Epamig atestam a eficácia da aplicação de óleos e extratos vegetais no controle de pragas em diferentes culturas. Na Ufla, estudo em fase inicial prevê seu uso no desenvolvimento de novos larvicidas naturais

Os aromas permeiam o imaginário e o dia a dia da humanidade há séculos. Os egípcios usavam material aromático no processo de mumificação dos corpos, na cosmética e na medicina. Chineses, indianos, hebreus, árabes, gregos e romanos, todos eles, povos civilizados e primitivos, se valeram no decorrer da história das essências de plantas aromáticas também na culinária e em cerimônias e rituais religiosos.

Nos dias atuais, tais substâncias de origem natural, conhecidas como essência, óleo essencial ou etéreo, continuam se destacando graças às suas nobres características.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Essenciais, Produtos Químicos Aromáticos, Fragrâncias, Aromas e Afins (Abifra), 42 empresas fornecem insumos para as cadeias produtoras de cosméticos, saneantes, alimentos e bebidas.

Amplamente usados na agricultura como fungicidas, bactericidas e inseticidas, esses óleos também são foco de inúmeras pesquisas sobre sua ação antitumoral, antiparasitária e antioxidante. Além das aplicações industriais, por meio especialmente dos perfumes, são empregados ainda em terapias alternativas, como a aromaterapia. Nesse caso, seu objetivo é reequilibrar disfunções físicas, emocionais e energéticas, por meio de banhos, na mistura com cremes, em loções de massagem, em vaporizadores e difusores de aromas para ambiente.



CHEIRO E SABOR

Voláteis ou etéreos, os óleos essenciais estão presentes em várias plantas e têm como características básicas o cheiro e o sabor. Embora sejam insolúveis em água, conseguem conferir odor à mesma, constituindo os hidrolatos (água floral) e tornando-se uma importante fonte de aromatizantes em perfumaria e especiarias.

Na alimentação, são usados para dar sabor, a exemplo da canela, do cravo-da-índia, do limão, do gengibre, da menta, do tomilho e da manjerona. As essências apresentam também atividades farmacológicas, entre elas antissépticas, anti-inflamatórias e antimicrobianas, muito usadas na medicina popular, para a fabricação de medicamentos e na cosmética. Para quem tem cabelos finos e que demoram a crescer, por exemplo, podem ajudar no fortalecimento e no desenvolvimento dos fios. Isso porque penetram nos folículos do cabelo, melhorando a circulação sanguínea, estimulando e normalizando o funcionamento das glândulas sebáceas.

Conforme dados da Terra Flor, empresa especializada em aromaterapia, com sede em Alto Paraíso de Goiás (GO), um dos óleos essenciais mais indicados para tratamento capilar é o de laranja-amarga (Citrus aurantium), conhecido como óleo da tonificação. Atua na fluidez do sangue e tem propriedade  anticoagulante, contribuindo para reduzir tanto a perda quanto a fragilidade dos fios. É, ainda, aliado no tratamento da caspa e da seborreia, fatores que levam à oleosidade e à queda

excessiva dos cabelos.oxigenação e a circulação sanguínea, o que contribui, entre outros fatores, para um sono mais tranquilo e reparador. Isso aconteceporque eles têm em sua composição substâncias como o acetato de linalila, que funciona como calmante natural, devolvendo a tranquilidade e ajudando no equilíbrio emocional.

Entre as essências mais usadas para combater a insônia estão a de lavanda-francesa (Lavandula dentata) e a de manjerona (Origanummajorana). A primeira promove umsono reparador, enquanto a segunda é eficaz em casos de falta de sono frequente.

Outra reconhecida função dos óleos essenciais é a sua capacidade de repelir insetos. O óleo de citronela (Cymbopogon winterianus) é um dos mais potentes repelentes. Pode ser usado diretamente em difusores de aromas ou misturado a produtos de limpeza. É comum também a queima de vela de citronela para afastar mosquitos e outros insetos de ambientes domésticos e locais de trabalho e de lazer.

Fique por dentro

- Conforme dados do Sebrae, a produção de óleos essenciais no Brasil, de forma comercial significativa, teve início no começo do século 20, com base no extrativismo de essências nativas, principalmente do pau-rosa (Aniba rosaeodora).

- A partir de 1940, devido à crescente demanda das indústrias do Ocidente, que se viram privadas de suas tradicionais fontes de suprimento em virtude da Segunda Guerra Mundial, a produção nacional passou a ser feita de forma mais organizada, com a introdução de outras culturas para obtenção de óleos, tais como menta, laranja, canela, sassafrás, eucalipto, capim-limão e patchouli, voltadas sobretudo para o mercado externo.

- Nas décadas seguintes, empresas internacionais do segmento de perfumes, cosméticos, produtos farmacêuticos e alimentares passaram a se instalar no Brasil, contribuindo para o desenvolvimento do mercado interno. Atualmente, o Brasil produz cerca de 3% do óleo essencial que consome.

- Em Minas Gerais, pesquisas da Empresa de Pesquisa Agropecuária (Epamig) e de universidades atestam a eficácia da aplicação de óleos e extratos vegetais no controle de pragas em diferentes culturas. Um processo ecologicamente saudável, seguro e mais barato, se comparado ao uso de pesticidas químicos.

- Entre os estudos vale citar o extrato do caroço do abacate, que se mostrou eficiente contra duas pragas: a podridão parda do pêssego e a podridão amarga da maçã.

A Epamig também tem iniciativas bemsucedidas de adição de óleos essenciais em produtos de panificação, assegurando o aumento da vida útil de prateleira dos alimentos e a manutenção de suas características de sabor, sem uso de aditivos químicos.

 

Pesquisa é destaque

Três perguntas para... Maria das Graças Cardoso

Pós-doutora em Óleos Essenciais pela Universidade de Lisboa, coordenadora do Laboratório de Óleos Essenciais e professora-titular do Departamento de Química da Universidade Federal de Lavras (Ufla)

Desde a sua criação, em 1996, quais têm sido as principais linhas de pesquisas desenvolvidas pelo laboratório que a senhora coordena?

Além da orientação a alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, nosso foco é extrair, caracterizar e quantificar quimicamente óleos essenciais de várias partes de diferentes plantas, bem como pesquisar as atividades biológicas desses compostos. Temos várias dissertações, teses e projetos aprovados por órgãos de fomento, tais como Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapemig) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), com foco em suas atividades fungicidas, bactericidas e inseticidas, e atuamos em conjunto com pesquisadores dos departamentos de Química, Ciência dos Alimentos, Entomologia e Fitopatologia da Ufla. Atualmente, em parceria com pesquisadores da Fiocruz e da Universidade Federal de Alfenas, desenvolvemos estudos sobre a ação desses óleos sobre o Trypanosoma cruzi (parasita da Doença de Chagas) e como antitumorais.

Quais os processos mais usados no Brasil para a extração dos óleos essenciais?

Há várias técnicas, sendo a destilação por arraste a vapor e a hidrodestilação as mais empregadas. Na extração de óleos de frutos cítricos, tais como laranja, limão, tangerina e outros, emprega-se a prensagem (mesma técnica empregada para óleos fixos e comestíveis, como soja, arroz, canola, etc). Existem também outras técnicas como a extração supercrítica, muito empregada na indústria.

Vocês também desenvolvem um estudo sobre oao Aedes Aegypti.... Em parceira com a professora Joziana Muniz , do Departamento de Medicina da Ufla, a pesquisa com óleos essenciais sobre o Culex (pernilongo) e o Aedes Aegypti (transmissor da dengue) vem sendo desenvolvida.

Estão sendo testados os mais diferentes óleos essenciais e seus componentes majoritários visando ao desenvolvimento de novos larvicidas naturais, com espectro de ação sobre esses insetos. O objetivo é encontrar nos óleos essenciais e nos seus constituintes substâncias que venham a ser empregadas como protótipos para novos fármacos.

Saiba mais

l O papel dos óleos essenciais está relacionado à sua volatilidade, pois, por meio dessa característica, agem como sinais de comunicação química com o reino vegetal e como arma de defesa contra o reino animal.
 
l Têm funções ecológicas, especialmente como inibidores da germinação, além de atuar na proteção contra predadores e na atração de polinizadores. Exemplo disso são as espécies conhecidas como trombeteira ou dama-da-noite, que exalam forte aroma à noite e podem atrair morcegos e mariposas.
 
l Algumas espécies de eucalipto e a losna (ou absinto), por sua vez, geram efeito inibitório na germinação de sementes por meio de seus óleos, de forma que outras plantas são totalmente inibidas de se desenvolver num raio de um a até dois metros delas (alelopatia).
 
l Estudos indicam que a toxicidade de alguns componentes dos óleos voláteis constitui uma proteção contra predadores e agentes infestantes. O mentol e a mentona são inibidores do crescimento de vários tipos de larvas. Já os vapores do citronelal (usado pelas formigas) e α-pineno (utilizado pelos cupins e encontrado em óleos de muitas espécies, em especial do pinheiro) podem causar irritação em um predador e fazê-lo desistir do ataque.

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