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Terça, 05 de dezembro de 2017

Beleza Submersa

Mercado mundial movimenta bilhões anualmente e peixes ornamentais são os primeiros, em quantidade, na lista de pets no mundo

Luciana Morais - redacao@revistaecologico.com.br



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Comparada a outros hobbies ou à manutenção de animais domésticos como cães e gatos, a aquariofilia é considerada uma opção mais econômica e menos trabalhosa.

Comparada a outros hobbies ou à manutenção de animais domésticos como cães e gatos, a aquariofilia é considerada uma opção mais econômica e menos trabalhosa.

Mercado mundial movimenta bilhões anualmente e peixes ornamentais são os primeiros, em quantidade, na lista de pets no mundo

 

Contemplação, bem-estar e menos ansiedade em meio à correria diária. Esses são alguns dos benefícios do aquarismo ou aquariofilia, prática de criar peixes, plantas e outros organismos aquáticos em aquários ou em tanques naturais ou artificiais para fim ornamental ou de estudo. Essa possibilidade de ter um pouco da natureza dentro de casa move uma infinidade de praticantes mundo afora.

Além de excelente peça decorativa, o aquário, com sua diversidade de peixes e plantas, proporciona aos aficionados uma agradável forma de terapia ocupacional. E pesquisas comprovam o seu efeito relaxante, aumentando o bem-estar humano e contribuindo para diminuir o estresse.

Comparada a outros hobbies ou à manutenção de animais domésticos como cães e gatos, a aquariofilia é considerada uma opção mais econômica e menos trabalhosa. A grande variedade de equipamentos e de produtos oferecida pelas indústrias e lojas especializadas também vem contribuindo para tornar a atividade ainda mais fácil e prazerosa, podendo ser praticada por pessoas de diferentes idades.

Em qualquer casa, apartamento e até mesmo em escritórios é possível encontrar um local adequado para a montagem de um aquário, que demanda pouco tempo de dedicação em sua manutenção diária e tem como recompensa o fato de proporcionar longas horas de contemplação. E mesmo quando o dono tira férias, o aquário pode permanecer sob cuidados especiais, proporcionados por equipamentos e rações próprios para essas ocasiões.

Antes de montar um aquário, o primeiro passo é pensar onde irá colocá-lo. Dê preferência a locais onde a luz do Sol não incida direta ou indiretamente sobre ele, pois isso favorecerá a proliferação de algas, deixando a água verde e tornando necessário fazer manutenção com mais frequência.

O passo seguinte é definir que tipo de aquário irá montar: comunitário ou com apenas uma espécie e se será plantado ou não. Aquário comunitário é aquele no qual há várias espécies diferentes de organismos aquáticos (peixes, crustáceos – camarões, lagostas –, moluscos – caramujos, polvos) ou apenas diferentes espécies de peixes em um mesmo espaço. Já o aquário plantado é aquele que tem plantas naturais, plantadas ou apenas soltas na água.

 

Regras básicas

Escolhido o tipo do aquário, é hora de definir quais serão os seus ‘moradores’: se peixes grandes ou pequenos, se mais ou menos sociáveis e ainda qual a quantidade ideal de exemplares. Escolher os peixes que irão para o aquário nem sempre é uma tarefa fácil, primeiramente porque muitas pessoas têm vontade de comprar todos os que veem nas lojas, e também porque, de modo geral, algumas regras básicas são esquecidas.

Uma delas é o hábito alimentar dos peixes: não é recomendado colocar peixes carnívoros em aquários com outros peixes menores ou próximos ao seu tamanho, pois com certeza eles irão comê-los. Assim, peixes como o oscar (Astronotus ocellatus) e os bagres, por exemplo, não são recomendados para aquários comunitários. Deve-se tomar cuidado ainda com os peixes herbívoros, caso opte por um aquário plantado, pois eles irão comer todas as plantas!

Outra regra essencial é conhecer o comportamento social do peixe. Isso porque algumas espécies são muito territorialistas, ou seja, estabelecem um determinado espaço dentro do aquário como sendo seu e o defendem até a morte. Um típico exemplar desse comportamento é o beta (Betta splendens) macho.

Machos dessa espécie não podem conviver com outros exemplares da mesma espécie em locais de pequeno espaço (menos de 10 a 15l por peixe), ao contrário das fêmeas de beta, que podem conviver juntas sem problema. Outro exemplo de peixe que tem esse comportamento territorialista são algumas espécies de ciclídeos, como o acará-do-congo (Archocentrus nigrofasciatus).

 

Filtro e aquecimento

É válido lembrar também que cada espécie de peixe vive em uma faixa específica de temperatura e ph da água. Por isso, ao montar um aquário comunitário, prefira espécies que exijam tanto faixas de temperatura como de ph bem parecidos, pois colocar determinadas espécies em ambientes fora da sua faixa de conforto térmico e de ph pode levar o peixe ao estresse, afetando sua homeostase e tendo como consequência a sua morte. Peixes como o acará-disco (Symphysodon discus) são sensíveis a variações nesses parâmetros da água.

Por fim, depois de decidir as espécies que residirão no aquário, o passo final é providenciar um bom filtro e cuidar do aquecimento. Os filtros têm dois papéis: retirar as sujeiras da água, como resto de ração e fezes dos animais, e remover os compostos nitrogenados da água, como a amônia e o nitrito, que são extremamente tóxicos para os peixes.

O primeiro tipo de filtro é chamado de filtro mecânico e o segundo de filtro biológico. Normalmente, a maioria dos modelos encontrada nas lojas já tem os dois tipos de filtro ao mesmo tempo. Em relação ao aquecedor, dê preferência aos que têm termostato, ou seja, com ajuste e controle de temperatura. O cálculo para saber qual aquecedor usar é de aproximadamente um watt por litro de água, sendo ideal fazer esse cálculo sempre para mais.

 

Fique por dentro

 Tamanho do aquário: a escolha dependerá de fatores como espaço disponível, quantidade e porte/espécie dos peixes que irão habitá-lo, bem como de quanto se pretende investir em sua aquisição.

 Independentemente da escolha, uma regra fundamental é: aquários grandes têm manutenção mais fácil e proporcionam chances de sucesso bem maiores que os pequenos. Isso acontece porque em maior volume de água é mais fácil alcançar e manter o equilíbrio biológico. As variações na qualidade da água são menos intensas e frequentes.

 O ideal é iniciar com tamanhos que comportem de 80 a 100 litros de água e evitar aquários com altura superior a 80 centímetros. Modelos muito altos dificultam a limpeza e a manutenção, além de não proporcionarem boas condições de iluminação.

 A espessura do vidro tem de ser compatível com o tamanho do aquário. Opte por fabricantes/marcas confiáveis e desconfie de modelos grandes, com vidros de pouca espessura. 

O substrato de fundo é um componente que três funções básicas: integrar o conjunto decorativo, servir de suporte às raízes das plantas e proporcionar condições para fixação dos microorganismos necessários à filtragem biológica. O recomendado é usar areia de rio para que a filtragem funcione adequadamente e as plantas possam se enraizar.

As pedras devem ser do tipo seixo rolado de rios. Evite pedras de origem calcária, conchas, cristais, mármores e outras variedades que possam alterar a qualidade da água, principalmente o ph. Acomode as pedras de modo a criar alguns esconderijos (locas) para os peixes.

 Quando for limpar o aquário, tente não trocar a água totalmente, faça troca parcial de água (TPAs) de 30 a 60% da água apenas, para não afetar o ambiente biológico já criado.

O PAPEL DA ILUMINAÇÃO

Os aquários são geralmente instalados em locais fechados. Portanto, é imprescindível que sejam equipados com sistemas de iluminação artificial. Além do aspecto estético, contribuindo para realçar a decoração e a beleza dos peixes, a iluminação também desempenha papel fundamental no desenvolvimento das plantas, fornecendo energia para que realizem a fotossíntese.

 Como a maioria dos peixes costuma se alimentar quando há claridade, a iluminação permite que eles aproveitem melhor o alimento fornecido. O tipo de iluminação mais usado é o com lâmpadas fluorescentes ou frias, como são mais conhecidas. Para determinar a potência e a quantidade de lâmpadas, deve-se seguir uma proporção aproximada de 1 watt para cada dois litros de água.

GLOSSÁRIO

Aquacultura ou aquicultura: atividade zootécnica de produção de organismos aquáticos, como peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios, répteis e

plantas aquáticas.

Homeostase: propriedade dos seres vivos de regular o seu ambiente interno, de modo a manter uma condição estável mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico, controlados por mecanismos de regulação inter-relacionados.

 

Dicas nas ondas do rádio

De modo geral, como se deve calcular a quantidade ideal de ração, considerando tanto as demandas de cada espécie de peixe quanto a necessidade de manutenção da qualidade da água dos aquários?

A quantidade ideal é aquela que os animais comam em cinco a 10 minutos. Caso perceba que eles comeram a quantidade fornecida muito rápido, na próxima alimentação ofereça uma quantidade um pouco maior. Por outro lado, se notar que sobrou ração após 10 minutos, o aconselhado é retirar esse excedente do aquário e fornecer uma quantidade menor da próxima vez. Isso evitará que o excedente da ração afunde e acumule na forma de matéria orgânica, deixando a água suja e alterando os seus parâmetros como ph, amônia e turbidez, por exemplo.

 

Qual a importância/função das plantas aquáticas no conjunto do aquário e como escolher as mais adequadas?

Os aquários que têm plantas naturais são denominados aquários plantados. Além de deixarem o aquário mais bonito e mais próximo do ambiente natural, elas servem de abrigo ou esconderijos para pequenos peixes e também para os filhotes de algumas espécies, como os guppies e espadinhas. Atualmente, há várias espécies de plantas que podem ser usadas: algumas ficam fixas (plantadas) e outras soltas. Na hora de escolher, pesquise e informe-se para saber se a planta cresce muito, evitando aquelas que ocupam muito espaço. Para quem tem espécies de peixes herbívoros, colocar plantas naturais não é uma boa ideia, pois os peixes comerão todas elas!

 

Há alguma pesquisa que se destaque – no Brasil ou no exterior – em relação aos benefícios da aquariofilia para o bem-estar humano?

Há sim! Vários trabalhos científicos mostram que ter e cuidar de um aquário desestressa, acalma e relaxa. A aquariofilia é tida como uma prática que tira a pessoa da rotina do dia a dia. Não por acaso, vários consultórios pediátricos e de dentistas têm aquários, como forma de distrair e acalmar as crianças.

 

Vocês têm um programa sobre aquariofilia na Rádio UFMG Educativa: em que dias ele vai ao ar?

Sim. Não só a aquariofilia como também a produção de organismos aquáticos vem crescendo ano após ano e, de olho nessa tendência, há oito anos o governo federal criou, na UFMG, o curso de graduação em Aquacultura, o único da região Sudeste. Como fruto de um projeto de extensão desse curso, temos um programa chamado “Na onda da Aquacultura”, veiculado aos sábados e domingos, às 10h. São programas curtos, de três a quatro minutos cada, com dicas sobre espécies de peixe, aquariofilia, nutrição, produção, qualidade de água, reprodução de organismos aquáticos etc. Os programas podem ser acessados no link.

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