Terça, 02 de janeiro de 2018

Fogo destruidor marca 2017

Fogos de artifício soltos durante a romaria anual de Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro, foram a principal suspeita do incêndio que queimou grande parte do Parque Estadual do Biribiri, em Diamantina.

Maria Dalce Ricas - redacao@revistaecologico.com.br



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Mas em 2017, um único incêndio destruiu quatro mil hectares do parque, dois mil dentro de sua área e os outros dois mil na zona de amortecimento. Foto: Domínio Público

Mas em 2017, um único incêndio destruiu quatro mil hectares do parque, dois mil dentro de sua área e os outros dois mil na zona de amortecimento. Foto: Domínio Público

Fogos de artifício soltos durante a romaria anual de Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro, foram a principal suspeita do incêndio que queimou grande parte do Parque Estadual do Biribiri, em Diamantina.

Grande parte das Unidades de Conservação (UCs) de proteção integral em Minas Gerais, que representam menos de 2% de seu território, foi destruída em 2017 por incêndios ateados por mãos humanas. Eles queimaram milhares de animais e árvores, com graves danos aos aquíferos e às paisagens. Falta de regularização fundiária, fragilidade de ações preventivas, deficiências no combate e impunidade são fatores comuns a todas as UCs.

Fogos de artifício soltos durante a romaria anual de Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro, foram a principal suspeita do incêndio que queimou grande parte do Parque Estadual do Biribiri, em Diamantina.

O Parque Estadual do Rio Preto, em São Gonçalo do Rio Preto, desde sua criação, há 21 anos, não enfrentava incêndios de grandes proporções. Isso graças a ações preventivas promovidas por seu gerente e equipe junto a moradores e comunidades de sua zona de amortecimento.

Mas em 2017, um único incêndio destruiu quatro mil hectares do parque, dois mil dentro de sua área e os outros dois mil na zona de amortecimento. Há um movimento na região que pleiteia quatro mil hectares da unidade, alegando serem “terras quilombolas”, pretensão rejeitada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) e diversas instituições da sociedade civil.

 

Tragédia ambiental

Em setembro, fogos de artifício também foram os responsáveis pelo incêndio que atingiu o Parque Estadual Serra do Rola Moça, eles foram soltos durante jogo de futebol ocorrido em campo próximo, que pertence à prefeitura de Nova Lima. Somente um incêndio registrado na Estação Ecológica de Acauã, situada em Leme do Prado e Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, foi suficiente para ser qualificado como uma grande tragédia ambiental, pois destruiu 1.945 ha de Mata Atlântica. As chamas subiram até a copa das grandes árvores, num espetáculo de horror e destruição.

A Reserva Estadual de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari, em Serra das Araras, Chapada Gaúcha, teve 1.300 hectares de veredas, preciosas nascentes que ocorrem no sertão fornecendo água a comunidades humanas, abrigo e alimentação a animais silvestres, destruídos pelo fogo.

Araras e papagaios-verdadeiros fazem seus ninhos nos buritis – palmeira típica das veredas. Provavelmente, centenas de ninhos foram queimados com seus filhotes. Além da crueldade em si, a perda representa grave dano à população dessas espécies já ameaçadas.

O gerente da Reserva, Cícero Barros, assim resumiu a tragédia: “Olhar para essa vereda, que era uma beleza, e vê-la agora toda cinza, toda preta, é uma tristeza. Estou com o coração doído”.

O Monumento Natural Estadual Serra da Moeda registrou 17 ocorrências até setembro. Depois, perderam-se as contas em função de tantos focos. A gerente, Laudicena Curvelo, estima que aproximadamente 70% da área foi devastada. Ela entende que não houve tempo para treinamento dos novos guarda-parques, aprovados no concurso em março, mas contratados já no período crítico.

O fogo consumiu todo o Parque Estadual da Serra do Cabral, que tem 22.494 hectares. Pastoreio extensivo e insustentável é a maior causa dos incêndios. Por 18 vezes, o Parque Estadual do Itacolomi, em Ouro Preto, com 7.543 hectares, ardeu em chamas este ano. O Parque Estadual do Sumidouro, em Pedro Leopoldo, que com pouco mais de dois mil hectares protege 53 cavernas e 157 sítios arqueológicos, enfrentou 42 incêndios até 14 de outubro: 18 em seus limites e 26 na zona de amortecimento.

Acabou 2017. Minas foi vice-campeã em perda de Mata Atlântica, os incêndios queimaram nossos parques, diversos deles permaneceram fechados durante meses por falta de funcionários e nem um único hectare foi objeto de regularização fundiária. Para 2018, o governo prevê cortar R$ 43 milhões da área ambiental, apesar de a Semad gerar recursos suficientes para se manter. E daqui a sete meses o “inferno” começa de novo.

 

(*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente.

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