Segunda, 19 de fevereiro de 2018
Seja inconveniente (2)
Veja como o aumento da temperatura vem impactando mortalmente a biodiversidade planetária e o cotidiano de todos nós
Al Gore: "É errado poluir a Terra e destruir o equilíbrio climático. É certo dar esperança à geração futura"
Nesta segunda e última parte da matéria especial sobre o novo documentário “Uma Verdade Mais Inconveniente”, do ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, veja como o aumento da temperatura vem impactando mortalmente a biodiversidade planetária e o cotidiano de todos nós
Aquecimento global
“Quando andamos lá fora e olhamos o céu, temos a impressão de que ele se estende vasta e ilimitadamente. Sem fim. Na verdade, a atmosfera da Terra é uma capa muito fina que envolve o planeta. Neste momento, estamos emitindo 110 milhões de toneladas de carbono que retêm o calor do aquecimento global. Usamos isso como um esgoto aberto para todo o lixo gasoso da civilização. A agricultura é uma das grandes contribuintes, com as queimadas de florestas e lavouras. Mas o principal são as emissões de dióxido de carbono da queima do carvão, petróleo e gasolina. Elas intensificam a energia térmica e elevam a temperatura.”
“A Índia bateu o próprio recorde de calor em maio de 2016: 51 graus. As ruas estão derretendo. Recordes de temperatura também foram batidos este ano na Tailândia, Camboja e Laos. No Paquistão, 1.200 pessoas morreram durante a onda de calor. Este ano, eles abriram covas antecipadamente para os que devem morrer por conta do calor.”
“Estamos vendo que as altas temperaturas estão alterando o equilíbrio entre os micróbios e os seres humanos. Veja o zika vírus. O calor acelera a sua incubação dentro do mosquito Aedes Aegypti, causando uma explosão no número de casos de pessoas contaminadas. Pela primeira vez na história, mulheres grávidas foram avisadas a não irem a uma parte dos EUA.”
l Tempestades
“Quando a temperatura aumenta, o vapor que sobe dos oceanos para o céu cresce expressivamente. Isso significa que as tempestades são diferentes agora porque acontecem num mundo mais quente e úmido. O vapor se afunila por milhares de quilômetros do oceano para o conti nente e grande parte dele cai ao mesmo tempo.”
“Uma análise global no aumento das temperaturas e na energia térmica extra mostra que 93% de toda essa energia vai para os oceanos. Isso gera várias consequências, como quando as temperaturas marítimas atravessam oceanos mais quentes e se transformam em eventos climáticos destrutivos. Há poucos anos, a supertempestade Sandy cruzou áreas do Atlântico 5oC mais quente do que o normal. E causou uma tremenda destruição em Nova Jersey e Nova York.”
“Anos antes, os cientistas previram isso. Um ano depois, nas Filipinas, o supertufão Haiyan atravessou áreas do Pacífico 3oC mais quente. Tornou-se a tempestade marítima mais destruidora a chegar no continente. Na cidade de Tacloban e áreas adjacentes, havia 4,1 milhões de refugiados ambientais. Milhares morreram.”
“Foi uma benção o Papa Fran cisco vir a Tacloban, o marco zero dessa tragédia, e dar a mensagem que ‘os mais graves efeitos da crise climática são sentidos pelos mais pobres’. Isso é uma verdade em todo o mundo.”
l Seca
“O mesmo calor que traz todo vapor d’água dos oceanos suga a umidade do solo. As estiagens ficam mais severas e longas. A vegetação seca e os incêndios aumentam.”
“Na Síria, de 2006 a 2010, ocorreu uma seca recorde. Muitos fazendeiros perderam suas fazendas. 60% delas foram destruídas. 80% do gado morreram. Dois milhões de pessoas passaram a ser extremamente pobres, além de terem um ditador bandido e viverem uma guerra civil multilateral. Foi a pior seca em 900 anos.”
“Se as próximas gerações viverem num mundo de inundações, tempestades, com milhões de refugiados fugindo de condições inabitáveis e países desestabilizados, elas se voltarão a nós e irão perguntar: ‘O que estavam pensando?’. ‘Não ouviram os cientistas?’ Não ouviram os gritos da Mãe Natureza?’.”
l COP-21
“Um dos segredos de ser humano é o fato de que o sofrimento nos une. Aqueles 150 chefes de Estado foram levados a falar de uma forma que normalmente não falariam. Cada um deles começou com os pêsames e depois com a solidariedade. E ao discursarem sobre o que esperavam da Conferência, enfatizaram que é uma oportunidade de tornarmos essa solidariedade tangível e real.”
“O Acordo de Paris não teria acontecido sem o presidente Obama, o secretário de Estado John Kerry e o presidente da França, François Hollande. Sem tantas pessoas que se dedicaram a isso. Quase todos os países do mundo concordaram em zerar as emissões de gases do efeito estufa ainda na metade deste século. É um ótimo sinal para os mercados e para os investidores. E resultou no maior empréstimo de energia solar da história, para a Índia avançar mais rapidamente. O trabalho é contínuo. E o papel de todos nós é fazê-los cumprir o acordo e manter a pressão.”
l Eco-92
“Estive em todas as conferências do clima desde 1992. O otimismo era grande no Rio, mas o jogo empacou. O mundo tem tido dificuldade de se estruturar e conectar a ciência à política. Para mim, os últimos 20 anos oram uma experiência dolorosa. Não só pela falta de resultado favorável, mas porque não havia uma forma de realmente controlar o processo e dizer: ‘Deixe-me ajudá-los’.”
l Verdade climática
“Com tantas novas ameaças, nunca foi tão importante dizer a verdade aos que detêm o poder. Faço o melhor que posso para falar em nome do interesse do povo para resolver a crise climática. Pode parecer meio pretensioso, mas tento me ater à verdade do que precisa ser feito. E cada um de nós, a seu modo, tem a obrigação e a capacidade de sentir o que está mais perto da verdade. Não é arrogância, é apenas um sentimento que creio ser familiar a todos. Trabalho nessa questão climática há tanto tempo que tenho certeza do que é certo para todos.”
l Movimento moral
“Lembro claramente quando o Movimento dos Direitos Civis Americanos começou a ganhar força. Vimos Bull Connor, comissário de Segurança Pública de Birmingham, no Alabama, lançar jatos d’água nos jovens afro-americanos por se opor aos direitos para cidadãos negros, e perguntamos aos mais velhos por que as leis discriminavam pela cor da pele. Quando não eles conseguiram mais responder à pergunta, as leis mudaram. O movimento para resolver a crise climática é mais um grande passo moral para o avanço da humanidade.”
“Nenhuma mentira dura para sempre. O arco moral do Universo é longo, mas ele se curva à Justiça. Estamos perto do ponto crucial quando este movimento, como o da Abolição, o Feminino, o dos Direitos Civis, do Antiapartheid, e como o LGBT, se resolverá na escolha entre certo e errado. Baseado em quem somos como seres humanos, o resultado está predeterminado. É certo salvar o futuro da humanidade. É errado poluir a Terra e destruir o equilíbrio climático. É certo dar esperança à geração futura. Não será fácil. Nós também, neste movimento, enfrentaremos uma série de ‘nãos’. O grande poeta norte-americano Wallace Stevens, no século passado, escreveu: ‘Após o último não, vem um sim. É desse ‘sim’ que o mundo futuro depende.”
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