Quinta, 22 de março de 2018

O legado do 8º Fórum Mundial da Ãgua

Chamar a atenção de lideranças políticas, empresariais e da sociedade civil como um todo para que tenhamos uma relação consciente sobre o uso, a preservação, a governabilidade e o cuidado para com esse recurso natural

Patrícia Boson (*)



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Quantas vezes em nosso cotidiano, especialmente como seres urbanos, fazemos uma reflexão madura e ativa de como nós acessamos água, como nós descartamos a água usada e qual o nosso papel no compartilhamento do ciclo hidrológico?

Quantas vezes em nosso cotidiano, especialmente como seres urbanos, fazemos uma reflexão madura e ativa de como nós acessamos água, como nós descartamos a água usada e qual o nosso papel no compartilhamento do ciclo hidrológico?

O Fórum Mundial da Água, em sua oitava edição e que acontece pela primeira vez no Hemisfério Sul, terá alcançado seu objetivo se conseguir, e ao que parece conseguirá, mobilizar milhares de pessoas, de todos os segmentos sociais e de várias partes do mundo, para cinco dias de reflexão sobre água.

Chamar a atenção de lideranças políticas, empresariais e da sociedade civil como um todo para que tenhamos uma relação consciente sobre o uso, a preservação, a governabilidade e o cuidado para com esse recurso natural. Quem sabe, ao final desses dias de reflexão, mudar, definitivamente, o comportamento diário de todos nós, consagrando assim um novo paradigma: de infinita e abundante, modelo mental dominante, água é, de fato e cada vez mais, limitada e escassa.

Quantas vezes em nosso cotidiano, especialmente como seres urbanos, fazemos uma reflexão madura e ativa de como nós acessamos água, como nós descartamos a água usada e qual o nosso papel no compartilhamento do ciclo hidrológico? O 8º Fórum, como lócus dessa reflexão, poderá dar o primeiro passo para incorporarmos o fato de que, mais que cidadãos de uma unidade federativa (Município, Estado, União) ou de um território, somos cidadãos de uma bacia hidrográfica. Dessa forma, compreendendo que todas as nossas atitudes dependem e que todas nossas escolhas interferem na disponibilidade hídrica. Desde o simplório gesto, mal educado, de jogar lixo na calçada, que acaba sempre em um curso de água, até decisões de grandes dimensões, tal como o modelo de desenvolvimento socioeconômico que devemos adotar.

Nesse contexto, outro grande legado para o país ao recepcionar o maior encontro mundial sobre água - e já manifesto como desejo antigo dos maiores especialistas -, é que no Brasil disponibilidade hídrica seja posta e gestada como tema estratégico e de segurança nacional. Isso de fato ocorreu, em 1988, quando a nossa Constituição determinou a instituição de um Sistema de Gestão de Recursos Hídricos. E, em 1997, quando foi instituído o Sistema, com a promulgação da Política Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Mas, infelizmente, no que tange à implementação, avançamos muito pouco. A Política Nacional e o Sistema não contam com órgãos gestores independentes, fortes e capacitados. Penso que, em todo o país,  temos, no máximo, duas instituições que respondem adequadamente aos desafios da gestão hídrica. Assim, apesar de termos um sistema moderno, coadunado com o que há de mais avançado na administração de um bem público, de múltiplos usos e valores, e assentados sobre um rico modelo de governança, com ampla participação social, pouco se efetiva sem o braço da governabilidade.

Como resultado que pode ser alterado (e estamos instrumentalizados para isso, basta vontade política), uma triste realidade: muitas de nossas coleções hídricas estão abandonadas. E, ainda, boas opções de investimentos são abortadas e muitos dos nossos cidadãos sofrem os efeitos dos eventos hidrológicos adversos, desabastecimento e inundação.

(*) Secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da Fiemg.

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