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Quinta, 22 de março de 2018

Teoria e prática a favor da natureza exuberante

Parceria entre Anglo American e universidades comprova que a inovação é peça-chave na reabilitação de áreas verdes. E a Fazenda Pitangueiras é mais um exemplo disso

Fernanda Mann - redacao@souecologico.com.br



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60 dos 341 hectares da Fazenda Pitangueiras, localizada às margens da Rodovia MG-10, em Conceição do Mato Dentro, serão transformados em APP.

60 dos 341 hectares da Fazenda Pitangueiras, localizada às margens da Rodovia MG-10, em Conceição do Mato Dentro, serão transformados em APP.

Sobreposta ao conjunto de áreas verdes que compõem a Cadeia do Espinhaço nas imediações de Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas, a Fazenda Pitangueiras está localizada às margens da Rodovia MG-10, na vertente oeste da Serra da Ferrugem.

Dos 341 hectares da Fazenda, 60 serão destinados à compensação ambiental, tornando-se Área de Preservação Permanente (APP).

Ainda tomado por pastagens desativadas, o território é fonte de conhecimento e está em processo de regeneração ambiental, por meio de trabalhos que vêm sendo realizados graças a parcerias entre a Anglo American e instituições de ensino. Entre eles, estudos e técnicas inovadoras que futuramente poderão ser replicadas na região, estão sendo transferidas para a propriedade, as pesquisas relacionadas às plantas também poderão ser feitas ali, utilizando as estruturas que instalaremos. Muitas, inclusive, já estão prontas e há experimentos em fase de acompanhamento com equipes em campo”, explica Rafael de Knegt, botânico e analista ambiental da empresa.

Conhecimento em prática

Localização, logística e infraestrutura favoráveis da Pitangueiras já permitem o desenvolvimento de 15 linhas de pesquisa, incluindo trabalhos de iniciação científica até mestrados e doutorados, por meio de convênio com a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Os estudos incluem programas de estratégia de conservação e monitoramento da biodiversidade, monitoramento ambiental e prevenção de incêndios florestais, além de ações de recuperação de áreas degradadas.

A meta é usar a pesquisa para gerar resultados diretamente aplicáveis na busca de soluções práticas, com ganhos tanto para a empresa quanto para o meio ambiente. “Buscamos formas de tornar mais eficiente o plantio compensatório e de aperfeiçoar o aproveitamento das mudas plantadas em campo. Queremos também identificar as espécies que são exclusivas de cada localidade, suas diferenças e as possibilidades de compensação. Estudos de florística nos auxiliam no desafio de conseguir áreas semelhantes para compensação, assim como os estudos dos tipos de solo. Entender melhor a composição dessas áreas é fundamental”, explica o botânico.

A recuperação ambiental no entorno de uma mina envolve peculiaridades que precisam ser trabalhadas de forma diferenciada, simultânea e sinérgica. Inclui, por exemplo, áreas adquiridas pela empresa como forma de compensação que estão em perfeito estado de conservação, exigindo apenas manutenções, e outras que precisam ser totalmente reconstituídas.

Outro aspecto essencial diz respeito à área de recuperação paisagística e ecológica do entorno da própria mina, com as pilhas de estéril – subproduto da extração do minério –, que são depositadas nos taludes.

Superando desafios

Faustino Souza, técnico agrícola e analista ambiental da Anglo American, explica que a recuperação de áreas degradadas no Brasil é relativamente recente, mas a cada ano tem avançado com novas técnicas.

A reabilitação das áreas mineradas é feita em duas frentes: contempla a reconstituição do terreno onde é desenvolvida a atividade e a revegetação propriamente dita.

Para o analista, ainda há muitos desafios a serem superados, tais como reconstituir o terreno à medida que a operação ocorre, uma vez que essas duas atividades devem caminhar juntas. “Hoje, um de nossos maiores desafios é identificar as espécies nativas capazes de fomentar a recuperação de áreas que sofreram algum tipo de intervenção. Durante toda a fase de implantação e operação da mina, a recuperação vai ocorrendo simultaneamente, para que, ao fim da operação, a área minerada já esteja totalmente reabilitada, deixando a paisagem a mais harmônica possível, com a utilização das espécies adequadas”, ressalta.

Sob esse aspecto, a Fazenda Pitangueiras é um típico exemplo de área de compensação adquirida em condições de completa degradação, a ser recuperada pela empresa, com ganhos ambientais coletivos.

Durante os trabalhos, uma técnica que tem apresentado excelentes resultados para recuperação da vegetação nativa é a utilização de topsoil (solo vegetal). Trata-se da deposição do material superficial retirado da área suprimida (obtido a cerca de 20 centímetros de profundidade, contendo solo, sementes, vegetação e material orgânico) em áreas a serem revegetadas. Com isso, garante-se a manutenção das espécies das áreas impactadas.

“É uma metodologia fantástica. Não é necessário fazer o plantio manual ou irrigar. Apenas depositamos o material. E, entre três e quatro anos, podemos observar uma mata exuberante, com árvores de até cinco metros de altura. O grande diferencial é a inovação, desenvolvendo modelos de recuperação como esse, com elevado nível de qualidade ambiental”, conclui Faustino.

 

Fazer a diferença

É com essa visão que a equipe de profissionais da Fazenda Pitangueiras enfrenta outros desafios e propõe o desenvolvimento de novas técnicas.

No caso do topsoil, antes de optar por sua utilização, foi preciso atuar no controle de espécies invasoras que dominam a área e impedem que a vegetação nativa se estabeleça.

Foi atenta a essa realidade que a pesquisadora Gleica Cândido começou a desenvolver sua pesquisa de doutorado, por meio de um convênio entre a Anglo American e o Núcleo de Recuperação de Áreas Degradadas (Nerad) da UFVJM.

O objetivo é encontrar alternativas que possibilitem a retomada da vegetação nativa na região, uma vez que a presença das gramíneas africanas, bastante agressivas, impedem a sobrevivência das espécies de interesse.

Os estudos e experimentos de campo feitos por Gleica envolvem diferentes técnicas de adubações, escolha de plantas fixadoras de nitrogênio e a proteção natural das mudas.

Segundo a pesquisadora, essa é uma valiosa experiência de aprendizado. “O estabelecimento de áreas de pastagem é algo muito elucidado.

Os agrônomos sabem muito bem como implantar um pasto e mantê-lo o mais produtivo possível. Mas fazer o inverso, retirando a braquiária de uma área que se deseja restaurar, é algo pouco conhecido. Além de fomentar a pesquisa e desenvolver minha pesquisa de doutorado aqui na Pitangueiras, estamos tendo a chance de transformar a realidade local, resgatando, num ambiente até então inutilizado, uma floresta nativa muito próxima do que essa área já foi um dia. Isso é muito gratificante!”

Para a pesquisadora Amanda Cristina dos Santos, o trabalho na Fazenda é uma oportunidade de vivenciar e aplicar conceitos aprendidos na teoria de considerar todas as características próprias do campo. Aqui, é necessário planejar, ser eficiente e aprender que os resultados nem sempre são aqueles que esperamos. Temos, ainda, a chance de trabalhar em equipe, enfrentando na prática todas as adversidades do ambiente externo, o que também possibilita grande crescimento profissional e pessoal.”

Ao aliar inovação e sustentabilidade, por meio do fomento à pesquisa, do uso de novas tecnologias e do fortalecimento de parcerias, a Anglo American comprova que é possível potencializar a recuperação de áreas verdes. E que o melhor exemplo vem da própria natureza, que responde com mais verde e mais vida, sempre que se trabalha de forma produtiva, responsável e sustentável.

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