Quarta, 18 de abril de 2018

A experiência do Semiárido



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“O desafio é superar o velho conceito de combate à seca, avançando para uma concepção mais holística e efetiva de convivência com o semiárido brasileiro.” Esse foi um dos temas que marcou o painel de debates “Desafios enfrentados pela agricultura familiar no uso da água”.

Coordenador da associação Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) na Paraíba, Luciano Silveira apresentou ações de mobilização social para o uso sustentável da terra, da água e da biodiversidade, com foco exatamente em estratégias de convivência com o Semiárido, região que se estende por 1.554,4 mil km2 do território nacional.

A AS-PTA é uma das organizações integrantes da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), que envolve centenas de outras instituições e trabalha em prol do fortalecimento da agricultura familiar e da promoção do desenvolvimento rural sustentável. Por meio de sua atuação, também subsidia a elaboração, a implantação e o monitoramento de políticas públicas.

Silveira destacou o histórico de estiagem no Semiárido, lembrando que, nos últimos 500 anos, foram registradas 72 secas, sendo 32 delas plurianuais. “Temos de avançar em gestão e também na adoção de estratégias de convivência, e não de combate à seca. Não se combate a neve na Sibéria, convive-se com ela”, comparou.

Experiência compartilhada

De acordo com Silveira, o trabalho da ASA Brasil é inspirado no conhecimento tradicional das comunidades, sobretudo no papel das mulheres agricultoras. Ele fez críticas ao sistema agroalimentar dominante. E citou os fortes impactos provocados pelos padrões elevados e insustentáveis de consumo de água na produção, processamento e distribuição de alimentos, cujo modelo também se reflete em maior degradação ambiental e exclusão social.

A agroecologia para convivência com o semiárido, por sua vez, se apoia em soluções integradas ao que a própria natureza provê, por meio, por exemplo, da relocalização dos sistemas agroalimentares e valorização da cultura alimentar local, tendo a agricultura familiar como base.

“Já promovemos 3.600 intercâmbios, envolvendo quase 62 mil participantes. Outro diferencial do trabalho é o registro de informações sobre o compartilhamento de experiências. Cerca de duas mil iniciativas estão sistematizadas em boletins. E mais: graças ao programa ‘Cisternas nas Escolas’, temos seis mil escolas rurais com água para beber e cozinhar. Água é direito, não mercadoria”, finalizou.

Orientação aos jovens

Enquanto acompanhava o debate, na plateia, Edite Caires, secretária municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Dom Basílio, contou que o município, localizado no Sudoeste da Bahia, é um importante centro produtor de frutas no Brasil.

“Temos aproximadamente 12 mil habitantes e 70% deles vivem no meio rural e dependem da agricultura. Dom Basílio vem sofrendo com as crises hídricas há cinco anos. Chove pouco na região e boa parte da população depende de recursos da Defesa Civil e do abastecimento por caminhão-pipa.”

Com a chuva escassa, a atual administração municipal tem investido na construção de barragens, na limpeza de aguadas e na ampliação das redes tubulares para garantir melhor qualidade de vida à população. Recentemente, em articulação com o governo federal, por meio de emendas parlamentares, conseguiu recursos para instalar uma adutora e abastecer a cidade com água da barragem Luiz Vieira, localizada no município de Rio de Contas.

“Somos um município tipicamente agrícola, com destaque para o cultivo de maracujá e manga, para comercialização, e a agricultura familiar para subsistência. A maioria dos agricultores abastece suas lavouras com água de poços artesianos/tubulações. Este Fórum é desafiador, são muitas as informações. Em abril, teremos uma Conferência Municipal de Meio Ambiente e estou coletando dados sobre diferentes experiências. Espero colaborar para a divulgação de boas práticas no campo, orientando principalmente os nossos jovens”, ponderou Edite, que tem formação na área de humanas, sociais e gestão ambiental.

Entenda melhor

A agricultura responde por 70% do consumo global de água, usada principalmente na irrigação. A indústria demanda 20% do total e os 10% restantes são destinados ao uso doméstico, sendo o percentual de consumo humano inferior a 1%.

Em 2025, 1,8 bilhão de pessoas viverão em países ou regiões com falta d’água e 2/3 da população poderá enfrentar a escassez total.

Atualmente, estima-se que quase metade da população mundial viva em áreas com potencial escassez de água por pelo menos um mês ao ano.

Fonte: FAO/ONU

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