Quarta, 18 de abril de 2018

A vila da cidadania ecológica



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Atrações reuniram visitantes de todas as idades: informação e formação de uma nova consciência de cuidado com a água. Foto: Campanato/ Agência Brasil

Atrações reuniram visitantes de todas as idades: informação e formação de uma nova consciência de cuidado com a água. Foto: Campanato/ Agência Brasil

Um espaço para brincadeiras, diversão, jogos, mas repleto de aprendizado, conceitos e valores importantes para serem adotados no dia a dia. Foi dentro desse espírito que a Vila Cidadã, construída para receber milhares de crianças dos ensinos fundamental e médio, da rede pública e particular, se tornou um dos espaços mais visitados do Fórum.

Para Mariana Bruno Duzzi, de 11 anos, aluna do sexto ano do ensino fundamental da Escola Mackenzie, a mostra foi um reforço nos conceitos que já tinha visto em sala de aula e aplica em casa. “Acho importante as crianças aprenderem a economizar água. Na minha casa nós já economizamos, apesar de termos fosso e bomba. Eu, normalmente, tomo banho de cinco minutos. Só quando lavo o cabelo é que demoro uns 10”, contou.

Seu colega, Rodrigo Furtado, da mesma idade, disse não gastar água da torneira ao escovar os dentes, tampouco ficar muito tempo no banho. “São regras que meus pais colocaram. Na minha casa tem piscina e usamos muito pouco. Eu acho que o correto seria a gente compartilhar essa água com quem não tem, com outras crianças, e ensiná-las também a economizar.”

A professora de ciências do Mackenzie, Ana Paula Ferreira, juntamente com outros docentes, levou 150 alunos à Vila Cidadã para reforçar os conceitos ambientais repassados em aula. “Diante dos sinais de escassez aqui em Brasília, com o racionamento, e em outras partes do mundo, precisamos repensar tudo: saneamento, consumo individual, nossas horas no banho, a relação água e saúde”, disse.

Questionada sobre as alterações previstas pelo Ministério da Educação para implantar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Ana Paula acredita que o conteúdo que hoje já é repassado transversalmente na maioria das escolas, vai ser mais reforçado ainda. “Um dos focos da BNCC é a sustentabilidade, além de permitir que a criança letrada seja capaz de entender o que acontece na sua vida e no mundo. Ou seja, que tenha a capacidade de enxergar a questão do meio ambiente como um todo.”

Consciência e educação

Éric Henrique de Sousa, de 21 anos, aluno do curso técnico de assistente administrativo do Senai, também foi à Vila Cidadã com uma equipe da escola. Se disse consciente sobre as questões hídricas e fazer sua parte. Ele mora em Novo Gama (GO), a 40 quilômetros de Brasília (DF) e por lá não há racionamento de água, como ocorre na capital federal.

“Mesmo sem o racionamento, acho importante adotar ações de economia e também esse debate sobre a água. Em casa, faço economia com banhos rápidos, mas também aproveito a água da chuva num reservatório para lavar roupas e a área externa”, explicou.

Presente na Vila Cidadã por meio do Projeto Golfinho, ação social da Caesb, concessionária de água e esgoto de Brasília, o professor Maurício Ferreira da Silva custava a dar conta de tantas crianças. Teve se dividir com outros colegas para levar, com segurança, a meninada. “Nossos alunos são crianças em vulnerabilidade social de Sol Nascente, uma comunidade bem carente de Ceilândia. Elas são selecionadas pelas próprias escolas onde estudam para participar do Projeto Golfinho, que trabalha, além das questões ambientais, ética, valores humanos e cidadania. Participar das atividades lúdicas na Vila Cidadã é uma coroação do trabalho que desenvolvemos ao longo do ano com os alunos. Muito importante”, disse.

 

Sabão Ecológico

Cursando Letras no Instituto Federal de Brasília (IFB), Alessandra Teixeira, de 40 anos, era, possivelmente, uma das “alunas” mais experientes presente na Vila Cidadã. Ela comandava um estande que mostrava um sabão ecológico, feito com resíduos de óleo de cozinha e casca de pequi.

“Há cerca de um ano, vimos produtores de pequi descarregando um caminhão com cascas do fruto em um córrego entre Taguatinga e Samambaia (cidades-satélite de Brasília). E fizemos uma abordagem com eles, do quão poluente aquela ação era para o curso d’água. Descobrimos que a casca do pequi era riquíssima em gordura e, essa gordura, em interação com a soda, dava um sabão muito bom!”, lembrou Alessandra.

A partir daí, a estudante, em interação com outros colegas do IFB, em especial com o pessoal do Núcleo de Estudos Agroecológicos, ofereceu uma capacitação para esses produtores de reaproveitamento do pequi. “Nossos experimentos para chegar ao sabão levaram seis meses, para encontrarmos o ponto bom da mistura. Descobrimos que era melhor deixarmos as cascas fermentarem sozinhas a cozinhá-las”, contou.

E, como não poderia deixar de ser, Alessandra Teixeira compartilhou com a Revista Ecológico a receitinha. “Afinal, por sermos alunos de uma escola pública federal, devemos compartilhar os conhecimentos com a sociedade.” Confira:

Ingredientes:

7 (sete) quilos de casca de pequi (foto)

1 (um ) quilo de soda cáustica.

1 (um) litro de água quente.

1 (um) galão de tinta vazio (sim, aquele de metal).

Modo de fazer:

 Coloque 7 kg da casca de pequi no galão metálico e tampe. Deixe essa casca fermentar por oito dias.

Pegue o litro de água quente e dissolva a soda por 40 minutos. Mexendo bem.

Jogue essa mistura no galão metálico e mexa bem. Jogue a mistura no molde que quiser (no caso do IBF, eles fizeram moldes retangulares, com restos de madeira, e forraram com papel). 

Deixe o sabão secar por oito dias para dar o ponto do corte.

O produto não fica com cheiro de pequi e, apesar da cor amarronzada, não mancha.

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