Segunda, 14 de maio de 2018

Eu, a tecnologia e o Eclesiastes

Roberto Francisco de Souza - redacao@revistaecologico.com.br



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"Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu". Eclesiastes, 3,1

Era assim. Quem duvidar que leia essa belezura de frase do livro do Eclesiastes. É ler e refletir. É refletir e abotoar as ideias. Com tanta tecnologia nova, que tempo teremos debaixo do sol?

Não há paz nesse assunto, só guerra. A tecnologia esticou os dias, fez eles parecerem beeeeeeemmmmmm compridos, feito “Hora do Brasil” que nunca termina antes do jogo do meu Galo.

Eu, que defendi o direito de todo mundo ter o “Valterzap”, o odeio de paixão. Olhe o que ele faz com a gente, transformando em maldição a nossa chance da conexão!

Mas vai ser diferente. Feito a Cássia Eller, eu ando por aí querendo encontrar o jeito que vai ser cada dia com tecnologia. No aeroporto, já não tem leão de chácara escaneando minha alma. Agora é máquina.

No banco, já nem tenho agência e o gerente, coitado, me informa que atende até vinte e duas horas sem consternação e com conexão. No supermercado, a Amazon informa irônica que os dias dos caixas estão contados - eles que achavam que o código de barras era seu pior satanás.

Na escola, todo mundo diz que ela é lifelong learning. Olha que tudo! E eu sou aluno, professor e trabalhador, cada e toda hora de um jeito.

Vamos ter mais tempo e outros propósitos debaixo do sol. Não teremos moedas e as pessoas serão curadas por um tostão de gene alterado e pronto. Toca prever, convém prevenir...

Pode ser que ninguém seja burro, nem preguiçoso, nem feio talvez. Pode ser que outro dia mesmo já tenha acontecido de os mamutes extintos terem ressurgido na terra, aqueles grandalhões que iam ressurgir só em 2030.

Passa boi, passa boiada, que propósito hei de ter debaixo do sol? Eu vou ler. Mas para quê, se de um tapa eu já li, implantado na conexão do smartphone que nem será mais isso (vai ser um chip)? Eu vou plantar árvore. Mas um robô vai plantar melhor!

Eu vou comer, porque o tal livro lindo diz que “todo o trabalho do homem é para sua boca e, contudo, nunca se satisfaz seu apetite (Eclesiastes, 6, 17)”.

Eu vou compor lindas canções, mas já já as máquinas também comporão. E quem sou eu, então?

Eu sou homem! Eu sou aquele que não é, que não existe sem precisar de esperança e sem contemplar. Eu sou o criador de obras feitas para a glória de Deus e, confessemos, para a minha glória mesmo!

Convém cuidado ao criarmos a técnica. Fico me perguntado “por que razão se iraria Deus contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos? (Eclesiastes, 5,6)”.

Há uma!

Eu creio - se Ele perceber que não contemplamos mais, que não nos encantamos mais com o que se criou para nós e com o que criamos para Ele - que desistirá de nós e não creio que nos destrua. Apenas nos abandonará, silenciosamente, e nos deixará em uma estranha paz na companhia da nossa imensa obra de tecnologia.

Saiba mais

Tech Notes

1. Revisite o Eclesiastes

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2. É verdade: os mamutes vão voltar

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3. Entenda o que é Lifelong Learning

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