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Segunda, 14 de maio de 2018

Poejo

Marcos Guião - redacao@revistaecologico.com.br



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Poejo - Mentha pulegium

Poejo - Mentha pulegium

O sol já tava estralando no alto quando Maria do Céu apontou nos forros do espigão de pedras. Num era a primeira vez que tava dando sentido daquela cena, mas eu sempre ficava encantado com a coisa do pano de chita floreada cobrindo o corpo franzino e vigoroso, dando mistura com as muitas nuances verdecentes esparramadas pelos campos. Sua figura esguia caminhava com suavidade e segurança. E dessa vez ela trazia alguma coisa nos braços, que custei a identificar como sendo um balaio pendulando.

Sua chegada como sempre era uma festa de abraços e risadas abertas, acalorada pela perguntação dos amigos e parentes que num tavam por ali. Depois dessa resenha do começo, curioso, assuntei o balaio coberto por um alvíssimo pano de saco bordado com delicadas flores. Ela deu reparo e sem cerimônia arretirou o pano, deixando à vista um tufo de pequenas folhas verdes enfeitadas com cachos de miúdas flores rosadas. Num gastou ela bulir muito pro cheiro do poejo (Mentha pulegium) assaltar minhas narinas, trazendo memórias que num primeiro momento não consegui acomodar com a realidade.

- Tô vindo dum proseio lá na casa de cumadre Benta de Astolfo, donde a gente foi no quintal pra buscá umas flor de enfeite da mesa da conzinha. Pois lá se dei com essa moita de poejo, pranta que perdi de vista aqui em casa na úrtima seca. Ela é deveras melindrosa, se perde num átimo na farta de água, né mesmo? Daí trouxe essa mudinha pra esparramá por aí.

Ela continuou: Mas cumadre Benta me contô um caso, arrepara só, dos mais esquisitos. Marilena, sua filha, ganhou neném inda há poco e ela tá toda feliz com a chegada da neta, que já tá de seis mês. Tro dia brotou uma tosse na menina e cumadre correu pra fazer um xarope de poejo, mas a fia dela na tenção de cuidá muito de premero filho, passou no posto e levô no dotô. Pois ele se avexô muito com o xarope caseiro e deu uma tanteira de remédio de farmácia pra bichinha tumá. Disse que poejo é brabo, criança num pode tumá... Duvido que a mãe desse dotô num deu ele esse mermo xarope quando ele ainda tava nas fralda! Num pode é o desajero, num é? Aqueles remédio brabo de farmácia pode, mas poejo não... Vê onde tamo chegano.

Dizendo isso, Maria do Céu foi adentrando pela cozinha e vazou pro quintal pra plantar suas mudas, enquanto ainda discorria sobre outras utilidades da planta.

 - Poejo é bão tamém pra dor de cólica, tanto de menino homem como de menina muié. Tem serventia quando a digestão tá arruinada ou a muié tá com as regras atrasadas. Remédio bão é remédio manso e na dose certa...

Inté a próxima lua!

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