Segunda, 21 de maio de 2018
Lavoura hÃdrica
Limpa e menos impactante ao meio ambiente, a hidroponia também se destaca pela alta produtividade, menor suscetibilidade a pragas e maior durabilidade dos vegetais após a compra pelo consumidor
Alface hidropônica está entre as culturas de maior destaque no Brasil.
Verduras, hortaliças e frutas. São muitas as opções à disposição de quem opta por consumir alimentos hidropônicos. Técnica milenar na qual as plantas se desenvolvem na água, rica em nutrientes, a principal característica da hidroponia é o cultivo sem solo.
As plantas crescem e se desenvolvem em soluções balanceadas e especialmente preparadas para nutri-las, circulando entre suas raízes e assegurando todos os elementos necessários ao desenvolvimento de cada cultura, tais como nitrogênio, potássio, fósforo, magnésio e outros.
A produção geralmente é feita em estufas, o que também ajuda a proteger as plantas do ataque de pragas e de parasitas e bactérias presentes no solo, além de reduzir os efeitos da variação climática e garantir a possibilidade de se produzir ao longo de todo o ano.
Em nível mundial, a consolidação da hidroponia em escala comercial ocorreu na década de 1980. Países como Canadá e Austrália investiram significativamente nessa técnica de cultivo e, atualmente, o maior produtor global é a Holanda. No Brasil, sua popularização se deu a partir dos anos 1990, tendo o estado de São Paulo, desde então, como o seu maior centro produtor.
Na região Nordeste, a hidroponia abrange desde a produção de verduras para consumo humano até a de forragem animal por pequenos produtores da Caatinga, assegurando trabalho, renda e melhor qualidade de vida a inúmeras famílias. No Rio Grande do Sul, por sua vez, pecuaristas sustentam rebanhos de gado holandês com pastagem hidropônica e se destacam ainda com a produção de mudas de fumo.
Origem grega
O termo hidroponia deriva do grego: hydro (água) e ponos (trabalho). É considerada uma técnica de cultivo limpa, com emprego de tecnologias modernas, de forma mais flexível e ágil. Conforme especialistas, é possível cultivar plantas de qualquer espécie, desde verduras e hortaliças de fruto – como tomate, berinjela e pimentão –, até mudas de diferentes espécies frutíferas e nativas.
Entre as técnicas de cultivo hidropônico também há variações. As raízes podem estar suspensas em meio líquido ou apoiadas em substrato inerte (areia lavada, por exemplo). Outro diferencial é a qualidade da água: quanto melhor, menos problemas para quem produz e menos riscos para quem consome os alimentos.
Análises químicas da água (quantidade de nutrientes e salinidade) e microbiológicas (coliformes fecais e patógenos) devem ser feitas com frequência, pois são fundamentais para a confiabilidade de todo o processo de produção hidropônica.
Na adubação, além de produtos prontos disponíveis no mercado, os mais usados em hidroponia são macronutrientes, entre eles nitrato de cálcio e nitrato de potássio, e também micronutrientes (sulfato de manganês, zinco, cobre etc).
Referência nacional
O primeiro laboratório de hidroponia do Brasil, o LabHidro (www.labhidro.cca.ufsc.br), é vinculado ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Responsável pela criação de tecnologias na área, consolidou-se como uma das referências no Brasil e também no exterior, atuando na pesquisa e extensão sobre o cultivo hidropônico e promovendo interface entre produtores, empresas e universidades.
Este ano, a horta hidropônica do LabHidro está completando 20 anos de atividades. Desde 1998, foram promovidos mais de 50 cursos, além de 11 congressos e três simpósios nacionais. É exemplo positivo de como um trabalho bem feito, iniciado a partir de uma horta de 300m2, serviu de inspiração para remodelar o setor de hortifrútis no Brasil.
Entenda melhor
Como as plantas se desenvolvem?
A – Na fotossíntese, as plantas usam a energia luminosa do sol para transformar o gás carbônico (presente no ar) e a água (absorvida pelas raízes) em oxigênio e açúcar, produzindo assim sua própria fonte de energia.
B – Na respiração, as plantas consomem oxigênio e eliminam gás carbônico. Por meio das raízes, absorvem a água que contém uma série de nutrientes liberados pelo solo e pela matéria orgânica que o compõe, ou seja, plantas não se alimentam diretamente de material orgânico, mas sim da solução nutritiva que retiram do solo.
C – Na hidroponia, as plantas são cultivadas flutuando em um reservatório com água (sistema floating), em um meio inerte, com brita, areia e outros materiais ou alojadas em calhas e tubos (tubetes), recebendo a solução nutritiva necessária ao seu desenvolvimento. Podem, ainda, ser cultivadas suspensas no ar, tendo como sustentação canos de PVC e recebendo água borrifada (as chamadas aeropônicas).
Fique por dentro
Técnica de cultivo limpa e menos impactante ao meio ambiente, a hidroponia também se destaca, entre outros aspectos, pela alta produtividade, menor suscetibilidade à ocorrência de pragas, melhoria da ergonomia e conforto para os produtores, graças ao trabalho em bancadas. Vale ressaltar, ainda, a maior durabilidade dos vegetais após a compra pelo consumidor final – dentro e fora da geladeira –, uma vez que a maioria deles permanece com suas raízes.
A hidroponia teve grande impulso a partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Na ocasião, as Forças Armadas norte-americanas se apropriaram da tecnologia para oferecer verduras e legumes frescos em porta-aviões, submarinos, desertos, bases militares e regiões polares.
Os primeiros cultivos em escala comercial surgiram após o conflito, em países como Itália, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Suécia, Rússia e Israel. Em 1965, o inglês Allen Cooper criou um sistema prático, simples e que não exigia tanto volume de água. Tratava-se de uma primeira versão do Nutrient Film Technique (NTF, na sigla em inglês).
Os sistemas hidropônicos são classificados quanto à movimentação da solução nutritiva em estáticos ou dinâmicos, abertos ou fechados. No sistema estático, a solução nutritiva permanece estática junto ou próxima às raízes.
A maioria dos sistemas usados na produção é do tipo dinâmico, nos quais há circulação forçada de água ou de ar para aeração da solução: floating, sub-irrigação, NFT, gotejamento e aeroponia. O mais difundido atualmente é o NFT, no qual um temporizador aciona a moto-bomba de forma intermitente, em intervalos pré-definidos (de 10 em 10 minutos, por exemplo), enquanto houver luz do dia. Como não há substrato entre as raízes, a solução circula e volta rapidamente ao reservatório.
Outra opção, que dispensa o uso de energia elétrica, é o sistema de bancadas individuais, criado pelo LabHidro/UFSC. Nesse modelo, a energia solar é usada para o funcionamento de eletrobombas de pequeno porte.
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