Segunda, 11 de junho de 2018

O futuro sustentável da agricultura brasileira

Documento lançado pela Embrapa apresenta tendências e perspectivas do setor para 2030 baseadas em análises tecnológicas, científicas, socioeconômicas e ambientais



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Sistemas de produção intensivos e sustentáveis, soluções resultantes da pesquisa e técnicas que dispensam o uso de insumos químicos integram o conjunto de soluções frente a desafios impostos pela megatendência “Intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção agrícolas”.

Sistemas de produção intensivos e sustentáveis, soluções resultantes da pesquisa e técnicas que dispensam o uso de insumos químicos integram o conjunto de soluções frente a desafios impostos pela megatendência “Intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção agrícolas”.

Continua repercutindo em meio aos órgãos oficiais e seus parceiros estratégicos o documento Visão 2030: o Futuro da Agricultura Brasileira, lançado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) durante o 8º Fórum Mundial da Água, realizado em Brasília (DF), para comemorar os 45 anos de atuação da entidade.

Trata-se uma robusta e completa análise do setor, coassinada por mais de 400 colaboradores da entidade e de instituições parceiras. Realizada ao longo de 18 meses, a publicação identifica todos os sinais e tendências globais e nacionais, sobre as principais transformações na agricultura - incluindo questões científicas, tecnológicas, sociais, econômicas e ambientais, além de seus potenciais impactos.

Disponível nas versões digital e impressa, Visão 2030 oferece bases para o planejamento estratégico das organizações públicas e privadas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e aponta perspectivas e desafios para a sustentabilidade na agricultura nacional.

Um dos destaques do documento é a identificação de sete megatendências: mudanças socioeconômicas e espaciais na agricultura; intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção agrícolas; mudança do clima; riscos na agricultura; agregação de valor nas cadeias produtivas agrícolas; protagonismo dos consumidores; e convergência tecnológica e de conhecimentos na agricultura. A publicação explora aspectos relacionados a cada uma das megatendências e sugere desafios (conheça alguns deles no box ao lado) e oportunidades.

           

Projeções

O Sistema Agropensa da Embrapa trabalha há anos com a análise e a projeção de cenários sobre a evolução e o futuro da agropecuária no Brasil e no mundo. Tendo em vista os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pelas Nações Unidas, o documento dá continuidade às análises e prospecções futuras consolidadas em duas outras publicações anteriores: “O Futuro do Desenvolvimento Tecnológico da Agricultura Brasileira” (2014), e “Cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira” (2016).

No primeiro estudo, foram indicados os cinco eixos de impacto para orientar a atuação futura da Embrapa. No segundo, identificou-se quatro possíveis cenários para a evolução da agricultura do Brasil a médio e a longo prazo.

Segundo Edson Bolfe, coordenador do Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa, as megatendências identificadas na publicação de 2018 são “indicadores de forças que se formam de maneira lenta, mas geram consequências que perduram por um longo prazo na agricultura”.

Ele completa: “Nosso objetivo é que as análises geradas contribuam para a tomada de decisões estratégicas tanto por parte da Embrapa quanto pelos parceiros públicos e privados rumo ao desenvolvimento sustentável do país”.

           

Contribuições da ciência

A Embrapa já vem atuando para superar alguns dos desafios apontados pelo estudo. O Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária Brasileira, lançado em março, atende, por exemplo,  o desafio de ampliar o uso da inteligência territorial estratégica em ações de governança e gestão pública e privada das cadeias produtivas da agricultura.

Sistemas de produção intensivos e sustentáveis, soluções resultantes da pesquisa e técnicas que dispensam o uso de insumos químicos integram o conjunto de soluções frente a desafios impostos pela megatendência “Intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção agrícolas”.

Um dos principais exemplos de sistemas de produção intensivos e sustentáveis é o de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), implantado atualmente em mais de 11 milhões de hectares no Brasil. Com o audacioso objetivo de chegar a um milhão de hectares em 2030, a Rede ILPF, constituída em 2012 pela Embrapa e quatro parceiros (Cocamar, John Deere, Soesp, Syngenta), foi transformada desde março último em associação. Tal mudança de status foi marcada pela adesão de dois novos integrantes: a Fundação SOS Mata Atlântica e o Banco Bradesco.

Com foco na internacionalização, na agregação de valor por meio da certificação e na inovação, a agora Associação Rede ILPF continuará o trabalho de transferência de tecnologia, capacitação de assistência técnica e de comunicação, buscando aperfeiçoá-lo.               

Com foco na mitigação dos efeitos da mudança do clima, uma ferramenta criada pela Embrapa é a Plataforma ABC, que tem como missão articular ações multi-institucionais de monitoramento da redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) dos setores da agropecuária brasileira, sobretudo as reduções derivadas das ações previstas e em execução pelo Plano ABC - Agricultura de Baixa Emissão de Carbono.

Entre as soluções resultantes da pesquisa, uma das mais recentes é o processo de inoculação de braquiária com a bactéria Azospirillum que, entre outras vantagens, também traz benefícios ambientais ao favorecer o sequestro de carbono da atmosfera e eliminar a necessidade de aplicação de insumos químicos à lavoura.

Segundo Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa, o sucesso competitivo e sustentável da agricultura alcançado nas últimas décadas precisa ser intensificado para que o país permaneça aproveitando suas vantagens comparativas e consiga assumir o papel de líder mundial no fornecimento de alimentos, fibras e energia. “A diversidade, pluralidade e heterogeneidade cultural, socioeconômica e ambiental do país é uma grande força competitiva e importante diferencial para irmos muito além da produção de commodities. O Brasil tem potencial de produzir alimentos únicos, mais nutritivos e alinhados com as demandas dos mercados mais exigentes”, pondera Lopes.

 

Fique por dentro

Desafios dos sistemas de produção agrícola

Melhorar a genética e o manejo animal para elevar a capacidade de conversão alimentar.

Ampliar o uso de sistemas integrados e sustentáveis de produção agrícola, reduzindo riscos sociais, ambientais e econômicos.

Otimizar o uso de recursos hídricos na agricultura irrigada.

Recuperar áreas degradadas para uso agrícola ou para fins de conservação ambiental, por meio do desenvolvimento de tecnologias e de políticas públicas.

Desenvolver indicadores e protocolos de certificação socioambientais de propriedade rurais, produtos e serviços.

Fomentar pesquisa e aprimorar o desenvolvimento e o uso de ferramentas gerenciais dos sistemas de produção agrícola.

Implementar políticas públicas e programas que promovam a adoção de boas práticas agrícolas e o pagamento por serviços ambientais.

Melhorar o manejo de irrigação de precisão, por meio do uso eficiente e sustentável de água e fertilizantes.

Ampliar a participação de biocombustíveis sustentáveis e de outras fontes de energia renováveis na matriz energética brasileira.

Otimizar o aproveitamento de resíduos agrícolas e o desenvolvimento de novos processos de manejo e de utilização de dejetos de produção animal.

Reduzir perdas e desperdício de alimentos por meio do desenvolvimento de novas embalagens, técnicas de armazenamento, manuseio, transporte, marco regulatório, campanhas de conscientização, banco de alimentos e outras estratégia.

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