Terça, 05 de dezembro de 2017

Frans Krajcberg- Um artista incoformado

Escultor e artista plástico de renome internacional e se autodeclara ambientalista, iniciou seus estudos com um dos mestres da Bauhaus, Willi Baumeister

Fabrício Fernandinho (*) - redacao@revistaecologico.com.br



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"Existe hoje uma consciência mundial em favor do meio ambiente. Graças a ela, reforça-se a ideia de que a sobrevivência da humanidade depende diretamente da sobrevivência do planeta. Essa dependência não é somente de ordem física. Ela é também uma fonte de inspiração espiritual, que nos permite antever um tempo infinito e dá maior sentido à vida."

Escultor e artista plástico de renome internacional e se autodeclara ambientalista, iniciou seus estudos com um dos mestres da Bauhaus, Willi Baumeister

Nascido na Polônia em 1921, Frans Krajcberg, brasileiro de alma, cidadão do mundo, tem uma trajetória singular pela sua luta em defesa da vida através da arte.

Escultor e artista plástico de renome internacional e se autodeclara ambientalista, iniciou seus estudos com um dos mestres da Bauhaus, Willi Baumeister. O começo de sua carreira foi ceifado pelos horrores da guerra, onde perdeu toda a sua família, e tornou-se um refugiado do holocausto. Em sua fuga, foi para a Rússia e, engajado, partiu para a luta na frente russa que invadia a Alemanha ao final da 2ª Guerra Mundial.

Finda a guerra, transferiu-se para Paris, onde estabelece contato com artistas cujos trabalhos fizeram a história da arte do século XX. Teve relações de amizade com Braque, Lerge, Chagall, Vera da Silva e Dibife, entre tantos outros, o que o tornou uma referência desse momento tão revolucionário da história da arte contemporânea.

Desiludido e inconformado com o mundo dos homens, transferiu-se para o Brasil em busca de silêncio e do distanciamento necessários para abrandar a sua revolta.

Sem conhecimento do idioma português, com quase nenhum dinheiro, chegou a São Paulo. E lá, por um curto período, passou por dificuldades extremas. A convite de amigos, trabalhou como montador da “I Bienal de São Paulo”, em 1951, onde também expôs duas de suas pinturas. Neste mesmo ano mudou-se para o Paraná, onde sua casa na floresta foi destruída pelas queimadas. Já em 1957 conquistou o prêmio de “Melhor Pintor” e voltou para Paris, sempre ficando em contato com Minas e Ibiza. Em 1964, ganhou o primeiro prêmio da Bienal de Veneza, o que o torna um artista reconhecidamente internacional, permitindo-se dedicar inteiramente à sua arte.

Na década de 1970, mudou-se para Catabranca, região de Itabirito (MG), onde morou por cinco anos dentro de uma Kombi e lá, ao ar livre, instalou seu ateliê. Até então, o artista vinha trabalhando intensamente com gravuras modeladas a partir do relevo de pedras e areias, desenhos e pinturas. Como ele declara, “em Minas Gerais foi onde criei as minhas primeiras esculturas”. Aqui, em meio às montanhas, foi o palco que permitiu o desenvolvimento de sua obra escultórica, hoje uma referência internacional.

 Outro lugar que escolheu morar no Brasil foi Nova Viçosa, no sul da Bahia. Uma região de densa floresta, hoje extinta, foi lá que instalou definitivamente seu ateliê no sítio Natura. A partir daí, a obra de Krajcberg passou a ser um alerta, um grito de dor de uma outra guerra, não do homem contra o homem, mas do homem contra a natureza.

Paralelo às suas esculturas, desenvolveu um trabalho de fotografia de extrema sensibilidade a partir de um olhar preparado, poético e atento. Como um dedo em riste, sua arte comoveu o mundo. Mais que belas, são um documento da destruição.

O trabalho de Krajcberg está representado nos principais museus e galerias internacionais. A partir dos anos 1980, mostras de grande vulto foram produzidas, associadas a uma densa publicação que documentou a sua obra, cumprindo os objetivos da sensibilização humana nas principais capitais culturais do planeta.

Sua morte, ocorrida no último dia 15, aos 96 anos, fez ecoar seu protesto diante do estado do mundo. 

(*) Curador da exposição “Minas... Paisagens Devastadas” e ex-diretor do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG.

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