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Terça, 05 de dezembro de 2017

Os vencedores de 2017

VIII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor a Natureza

Luciano Lopes - luciano@souecologico.com.br



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Juliano Salgado, Sebastião e Lélia, Rodrigo Dutra,
Eloah Rodrigues e Hiram Firmino. Foto: Gláucia Rodrigues

Juliano Salgado, Sebastião e Lélia, Rodrigo Dutra, Eloah Rodrigues e Hiram Firmino. Foto: Gláucia Rodrigues

VIII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor a Natureza

1. Homenagem do Ano Sebastião Salgado e Lélia Wanick

O recado de lélia

“É um imenso prazer estar aqui. Revendo agora o filme ‘Sal da Terra’ e a Fazenda Bulcão degradada, digo que é uma felicidade chegar lá e ver novamente a floresta e os animais. Nós temos até famílias de jaguatirica e onça de volta! São tantos bichos, tantos passarinhos, lá virou realmente um santuário.

Quando tivemos a ideia de plantar uma floresta, nunca podíamos imaginar que seria desse jeito. Que iríamos chegar onde chegamos e, sobretudo, com a quantidade de pessoas que trabalham e sonham conosco.

Este prêmio não é nosso. É de todos os funcionários do Instituto Terra, de hoje e que passaram por lá antes, desde o início.

De todos os membros dos Conselhos - Diretor, Construtivo e Fiscal. Este prêmio é de todo mundo. Nós nunca conseguiríamos ter feito nada sozinhos. Quero agradecer esta homenagem, em nome do Instituto Terra inteiro. Muito obrigada!”

 

O recado de Sebastião

“A nossa história, a história da humanidade, tudo o que temos, na realidade foi construído através de sonhos. A gente sonhou. Recebemos aquela terra, em Aimorés, inteiramente degradada. E isso aconteceu exatamente no momento daminha vida em que pensei emabandonar a fotografia e virar agricultor, trabalhar a terra. E assim começamos. Mas aquela terra estava cansada e doente, assim como eu.

Cheguei doente da minha viagem à África, psicologicamente destruído. E Lélia teve essa ideia de refazer ecologicamente aquele pedaço de terra, plantar a mata que existiu ali. Era difícil, porque nós não somos ricos. Eu sou simplesmente um fotógrafo. A Lélia é designer e diretora artística.

Começamos a procurar amigos em Belo Horizonte e encontramos tanta gente, assim como o José Carlos Carvalho [ex-ministro de Meio Ambiente] e o Célio Valle [biólogo e ex-diretor do IEF], ambos conselheiros da Ecológico. Célio foi o maior irresponsável do mundo [risos], ao conseguir e apostar que a nossa terra se transformasse em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN); a primeira RPPN implantada no Brasil em uma região sem verde e água inteiramente degradada.

Aos poucos percebemos que a recuperação era possível. Então, corri o mundo passando o chapéu pedindo apoio e hoje conseguimos materializar esse sonho. Chegamos a 2,5 milhões de árvores plantadas, sendo mais de 300 espécies nativas.

Reconstituímos um ecossistema que ficou muito parecido com aquele que existiu quando eu era criança e havia sido inteiramente destruído.

Estou felicíssimo de receber esse prêmio. Foi uma honraimensa estar aqui com todosesses companheiros sonhadores também premiados.

Muito obrigado!”

 

2. Melhor Exemplo de Iniciativa Individual

Sítio Pindorama, do geólogo Gilson Essenfelder

Transformar uma área degradada em um oásis de palmeiras nativas e exóticas. Foi o que o geólogo Gilson Essenfelder fez logo após adquirir, há 23 anos, 50 mil metros quadrados de terra em Baguari, no Leste de Minas. Lá, ele plantou exemplares de mais de 500 espécies. O local é aberto ao público e também recebe estudantes, pesquisadores e colecionadores de todo o país. Apesar de sua beleza, as palmeiras brasileiras ainda são pouco conhecidas pelos paisagistas e administradores públicos nacionais. E, em consequência, pouco conhecidas e plantadas pelos brasileiros em geral.

Dendês africanos, palmeiras imperiais colombianas, seafortias australianas, arecas africanas e outras palmeiras “alienígenas” são plantadas à exaustão em ruas e praças das cidades brasileiras, em prejuízo àquelas ligadas à cultura e à vida econômica brasileiras.

O Sítio Pindorama se propõe, assim, a sanar esta lacuna e tornar conhecidas as espécies tupiniquins, seja por meio de sua observação direta, do conhecimento de sua importância para a subsistência de milhões de brasileiros. Seja do seu valor para a biodiversidade, principalmente a fauna das suas regiões de origem.

Mantido com recursos próprios e com a venda de sementes, o sítio preserva árvores conhecidas, como o buriti, tão retratado nas obras do escritor Guimarães Rosa. “Pindorama é o nome que os Incas chamavam o nosso território e os próprios indígenas que estavam aqui. Significa ‘terra de esplendor das palmeiras’. Precisamos resgatar esta mais valia”, afirmou Jorge Raggi, biólogo e consultor do Sítio Pindorama, que recebeu o prêmio em nome de Essenfelder.

 

3. Melhor Exemplo de Conhecimento Popular

Projeto Cevadeil - Fruta de Sabiá/José Renato Resende

A história deste projeto começou em Guaraqueçaba, município de oito mil habitantes no litoral do Paraná. Foi lá que o ambientalista José Renato Resende viu uma cena curiosa, que mudou a sua vida: índios locais jogavam pequenas e amareladas frutinhas de uma árvore na água para atrair os peixes. Indagativo, ele resolveu levar uma muda dela para reproduzir no seu sítio em Alvorada de Minas, no coração da Serra do Espinhaço.

Deu certo. Mais que um chamariz para os peixes e passarinhos, principalmente os sabiás, que vinham comer as tais frutinhas, ele percebeu outro dado sustentável: as árvores de porte médio que produziam essas frutinhas também serviam para dar meia sombra. Assim, sem o sol a pino, elas facilitavam o melhor crescimento de árvores maiores na beira dos rios e faziam voltar rapidamente o verde que existia antes, recuperando as áreas degradadas.

O que José Renato fez, entusiasmado com a descoberta e inspirado nessa sabedoria disponível da natureza? Por meio do Projeto Cevadeil, começou a disseminar, reproduzir e comercializar, para todo o país, as sementes e mudas da espécie vegetal- a fruta-de-sabiá (Acnistus arborescens) que,ele descobriu depois, estava em extinção.

Resultado: em oito anos, Renato transformou seu sítio em um grande viveiro. Já recebeu e entregou encomendas de mais de 100 mil mudas e 50 mil sementes. E, com o apoio ecológico dos passarinhos, que o ajudam a espalhar as sementes, mais de um milhão de novas árvores hoje vicejam pelas matas ciliares do país, como disse ao receber a estatueta: “Fui apresentado a esta planta pelos peixes. E a trouxe para tratar deles. Acabei envolvendo vocês, passarinhos, no meu projeto.

Vocês é que roubaram a cena, conquistando 100% dos meus apoiadores. Essa iniciativa aqui reconhecida é para atender às pessoas maravilhosas que me procuram, querendo fazer a sua parte pelo meio ambiente”.

 

4. Melhor Exemplo de Educação Ambiental

Movimento Ecos, Escola Superior Dom Hélder Câmara

Trata-se de um projeto socioambiental jurídico, desenvolvido desde 2011, que está transformando o universo escolar nas montanhas de Minas. Baseado no ciclo da melhoria contínua, o projeto treina alunos bolsistas dos cursos de Direito e Engenharia, vindos de escolas públicas, que retornam a essas instituições para desenvolver ações de conscientização, abordando temas como economia de água, energia e geração de resíduos. No último ano, eles trabalharam a transversalidade da educação ambiental em 30 escolas públicas de ensino médio da Região Metropolitana de Belo Horizonte - muitas delas em áreas carentes da cidade.

Também foram realizadas 95 palestras e 134 oficinas para um público de seis mil alunos e professores. “Quero agradecer e dedicar este prêmio a todos os nossos professores e alunos que abraçaram essa causa socioambiental. No próximo ano, com este incentivo que recebemos do Prêmio Hugo Werneck, iremos duplicar o número de escolas atendidas, chegando a 60 em 2018”, ressaltou Luiz Antônio Chaves, coordenador-geral do projeto.

A cada ano o ciclo se renova, convidando as escolas participantes do ano anterior a confirmarem sua participação e convidando novas escolas interessadas a participarem. Essa participação é formalizada por meio da assinatura de um Termo de Adesão pela diretoria da escola, que se compromete a apoiar o desenvolvimento do projeto, para as atividades de educação ambiental durante o ano letivo.

E o projeto ainda renderá mais frutos em 2018 Segundo Francisco Haas, pró-reitor de Extensão da Escola Superior Dom Hélder Câmara, recentemente foi realizada uma reunião com a secretária de Estado da Educação, Macaé Evaristo, para “ampliar o projeto na Região Metropolitana a todas as escolas estaduais de Minas”.

 

5. Melhor Exemplo em Biodiversidade

Projeto Uçá, ONG Guardiões do Mar

Um exemplo que vem do mangue e do mar. É assim o Projeto Uçá, iniciado em julho de 2012, que atua para disseminar e aumentar o conhecimento sobre o caranguejo uçá (Ucides cordatus) e seu ecossistema, promovendo a sustentabilidade e contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental e social da região leste da Baía de Guanabara. Por meio da Operação LimpaOca, as ações do projeto já contribuíram para a retirada de 13 toneladas de lixo dos manguezais da baía e de outros oito municípios fluminenses (Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Magé, Guapimirim, Cachoeiras de Macacu, Petrópolis e Teresópolis) apenas nos últimos quatro anos.

O projeto também reflorestou 182 mil metros quadrados de manguezais com o plantio de 50 mil mudas de árvores nativas. A iniciativa também atua em outras frentes: geração de renda e qualificação para pescadores e catadores de caranguejos locais.

Realiza ações de educação ambiental que incluem pessoas com deficiência e que já contribuíram, por exemplo, com 20% dos 138.980 kg de recicláveis comercializados em 2016 pela Cooperativa de Catadores de Material Reciclável de Itaboraí.

Além de preservar o uçá, ameaçada pela poluição dos manguezais, as atividades potencializam o desenvolvimento de pesquisas científicas sobre a espécie, viabilizam a criação de banco de dados para o ICMBio e promovem o manejo sustentável do caranguejo em regiões onde esteja sobre-explorado.

 

6. Melhor Exemplo em Mobilização Social

Projeto Dá Pé, de Estevão Ciavatta/ Pindorama Filmes

A iniciativa vencedora tem um sonho que também é de todos os brasileiros: reflorestar o país. Por meio de uma campanha anual de crowdfunding, a cada R$ 20 doados uma árvore é plantada em áreas degradadas nos nossos biomas. Desde 2015, R$ 600 mil foram arrecadados, que representam o apoio de dois mil e duzentos cidadãos e empresas antenadas com a causa ambiental. E, sob supervisão da Fundação SOS Mata Atlântica, contribuiu para que mais de 30 mil novas árvores fossem somadas ao verde atlântico de Rio de Janeiro e São Paulo. As doações também ajudaram a disponibilizar, no site www.umpedeque.com.br, a íntegra dos programas “Um Pé de Quê?”, do canal Futura, um dos maiores acervos audiovisuais do país sobre áreas brasileiras.

O idealizador do projeto, o diretor Estevão Ciavatta não pôde comparecer à cerimônia por

conta de uma viagem à Amazônia. Mas enviou uma simpática mensagem em vídeo: “Que felicidade receber o Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade

& Amor à Natureza! Amar a natureza é uma declaração de amor à humanidade. Sabemos que, em termos geológicos, para a natureza pouco importa o que vai acontecer nos próximos 100, 200 anos, e que serão fundamentais para a história dos homens definidores do nosso futuro. Foi pensando nisso que pensamos na campanha de crowdfunding, que se tornou uma das 10 maiores da história do país. Já impactamos mais de sete milhões de pessoas com as nossas três primeiras ações. Viva la revolución Mata Atlântica!”

 

Homenagem Especial

John Parsons

O jornalista Hiram Firmino e sua esposa Eloah Rodrigues conheceram o nosso homenageado especial de uma maneira inusitada. Ao passarem pela encantadora cidade de Tiradentes, há três anos, eles perceberam um carro vindo apressado logo atrás do deles. Era um motorista magro e de cabelos brancos, buzinando e acenando para eles pararem.

Como havia um adesivo da Ecológico colado no vidro traseiro, tudo se explicou: “Custei para alcançá-los. Vocês são da revista? Sou assinante e leitor.Preciso muito lhes falar sobre o projeto Ecológico nas Escolas. Pelo que li na revista, o governador deMinas o adotou em todas as instituições públicas de ensino fundamental do estado”.

Este nosso leitor grisalho foi entrevistado na hora. E tornou-se colaborador eventual da Ecológico até sua morte, em 2015. Duas frases dele se tornaram lemas da revista: “A esperança do planeta está na educação ambiental”, é a primeira. E a segunda: “Toda professora do século XXI tem de ser ecológica!”.

Estamos falando do engenheiro John Parsons, o educador de Tiradentes, inglês de nascimento e mineiro de coração. Ambientalista ferrenho, foi fundador da primeira pousada da cidade, o Solar da Ponte, nos anos 1970, e da Sociedade dos Amigos de Tiradentes. Ele também foi um dos responsáveis pelo tombamento da Serra de São José, que tanto amava, como patrimônio cultural e ambiental.

John era casado com a historiadora Anna Maria Parsons, que faleceu este ano. Juntos, deixaram um legado de sustentabilidade e amor à natureza que, por coincidência, marcou outro grande momento na cerimônia do Prêmio Hugo Werneck de 2017: o projeto vencedor da categoria “Destaque Municipal”, também de Tiradentes.

 

7. Destaque Municipal

Projeto Tiradentes Lixo Zero, da Associação Tiradentes Lixo Zero

De algum lugar, John e Anna Parsons estão vendo que a missão deles continua. Agora pelas mãos da enteada de John, a artista plástica e educadora ambiental Andrea Dirickson, mais conhecida por Tancha. É ela quem idealizou o projeto vencedor desta categoria: o Tiradentes Lixo Zero.

E é a história que nos mostra como a iniciativa nasceu: a primeira conquista de Tancha, por meio do projeto, foi legalizar a situação trabalhista dos catadores de material reciclável na cidade.

Ao criar a Associação Tiradentes Lixo Zero, que incluiu em seu estatuto o apoio aos catadores, ela conseguiu buscar investimentos e também fundar a cooperativa Tiradentes Recicla. Resultado: através de campanhas junto a escolas, pousadas, estabelecimentos comerciais, população em geral e turistas, foi possível recolher mais de 93 toneladas de lixo reciclável em

16 de novembro do ano passado, sua primeira ação de educação ambiental, batizada como “o Dia do John”. Uma gincana ecológica que envolveu mais de 760 alunos do município, com a utilização de ecopontos doados pela associação.

Assim, por meio do exemplo de John e da participação popular, Tancha mostrou que, através da educação ambiental, o “Dia de John” deve ser todos os dias.

“Este nosso projeto é feito com muito amor. Uma tentativa de fazer algo positivo com os resíduos gerados em uma cidade histórica peculiar.

Muitos eventos acontecem lá, que tem 7.600 habitantes, mas produz quantidade de lixo equivalente a uma cidade de 20, 25 mil. O John foi nosso grande inspirador. Era um aventureiro, no sentido bom da palavra, e sempre nos influenciou muito. Um espírito generoso, sempre preocupado em fazer do mundo um lugar melhor para todos nós”, disse Tancha.

Ela subiu acompanhada do irmão, Carlos Frederico, e do presidente da cooperativa, Márcio de Souza, que fez um pedido: “Vinte toneladas de vidro estão lá na Tiradentes Recicla, pois não conseguimos ainda adquirir um triturador para conseguirmos vender o material. Estamos em busca de apoio para melhorar nosso serviço”. Mal sabiam eles que, minutos depois, a ONG e a cooperativa teriam uma outra surpresa.

 

8. Destaque Estadual

Projeto Semente, Caoma/ Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)

Um dos destaques de 2017, o Projeto Semente é uma plataforma virtual que mobiliza e auxilia a sociedade civil organizada, o poder público e a iniciativa privada a apresentarem, de forma inclusiva e democrática, projetos de relevância socioambiental ao

Ministério Público do Estado de Minas Gerais. E que contribui também para democratizar o acesso da sociedade aos recursos oriundos de medidas compensatórias devidas por compensações ambientais.

“Quero parabenizar à Revista Ecológico pela iniciativa. E também honrar meu antecessor no Caoma, dr. Carlos Eduardo Ferreira Pinto, que foi o grande idealizador do projeto. Como as boas práticas devem não apenas ser mantidas como ampliadas e aprimoradas, nossa gestão agora está iniciando a terceira fase do projeto”, afirmou dra. Andressa Lanchotti, promotora de Justiça e atual coordenadora do Caoma.

Desde seu lançamento, em 2015, a plataforma conta com mais de 330 proponentes  cadastrados e quase 200 projetos socioambientais inscritos. Por meio dela foi possível recuperar áreas degradadas com vegetação nativa; reconstruir uma unidade do patrimônio histórico cultural mineiro; e envolver quase cinco mil estudantes em atividades voltadas à educação ambiental.

No total, 285 mil pessoas já foram beneficiadas direta e indiretamente pelo projeto. “Acreditamos no diálogo entre o primeiro, segundo e terceiro setores e a plataforma traz a democratização e a possibilidade de investimento em ações em todo o estado. Assim, instituições que têm um ‘porquê’ podem desenvolver projetos para um mundo melhor e para o desenvolvimento sustentável”, completou a coordenadora do Projeto Semente e presidente do Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMais), Marcela Giovanna Nascimento.

 

9. Destaque Nacional

Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), Governo Federal/Ministério do Meio Ambiente O vencedor desta categoria é a maior iniciativa de conservação de florestas tropicais do planeta.

Tem um incalculável impacto positivo para o meio ambiente, o clima e toda a humanidade. E esse impacto é resultado das ações de proteção e preservação de quase 60 milhões de hectares de áreas protegidas, distribuídas em 114 unidades de conservação na Amazônia brasileira.

O Arpa conta com o apoio de entidades estrangeiras e da iniciativa privada nacional. Hoje, pensando localmente e agindo globalmente, a única grande empresa brasileira a patrocinar o projeto é a Anglo American. E que ajuda, sobremaneira, a expandir e aperfeiçoar o Sistema de Unidades de Conservação na Floresta Amazônica, contribuindo para a prevenção do desmatamento e o cumprimento das metas de redução de gases de efeito estufa, apresentadas pelo Brasil durante a Conferência do Clima, a COP-21, em Paris.

“É um grande privilégio receber este prêmio, em nome do Ministério do Meio Ambiente, do ICMBio e dos estados abrangidos pelo programa. O Arpa beneficia não só UCs federais na Amazônia, mas também estaduais. O projeto tem 15 anos e tem tudo a ver com o que diz a Constituição Brasileira no artigo 225, quando preceitua que o ‘meio ambiente’ é um direito e um dever de todos, do Estado e da sociedade”, afirmou Silvana Canuto, presidente substituta do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), representando Ricardo Soavinski, presidente da instituição.

 

10. Melhor Projeto de Parceiro

Sustentável - “O Rima Tá na Rua”, da Anglo American Brasil

A iniciativa vencedora nesta categoria surgiu no início deste ano, quando a Anglo American Brasil protocolou o pedido de licenciamento ambiental para a próxima etapa de operação do Projeto Minas-Rio, na região de Conceição do Mato Dentro, no coração ferrífero de Minas. Tudo seguia o processo legal. A Semad agendou uma audiência pública para o dia 11 de abril. Porém, uma liminar concedida em ação popular movida contra o Estado suspendeu sua realização nesta data. Uma das razões, segundo a Justiça, foi de que o EIA-Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) da empresa não havia sido devidamente divulgado à população.

Em vez de contestar, o que a empresa fez, de maneira simples, pioneira e criativa, para se comunicar com as populações dos quatro municípios onde atua, além das dezenas de distritos rurais à sua volta?

Estilizou uma van com a hashtag “O Rima Tá na Rua” e convocou uma equipe multidisciplinar de funcionários, munidos de todas as informações e meios de comunicação necessários, para informar a população.

Também imprimiu e distribuiu cópias físicas do EIA-Rima. Em menos de um mês, eles percorreram 1.500 quilômetros entre serras e povoados afora de três municípios, compartilhando e sanando as dúvidas da população. Nas mídias sociais, posts segmentados alcançaram um público de 44 mil pessoas.

Trabalhadores rurais, profissionais autônomos e aposentados, estudantes, funcionários públicos, empregados próprios e terceirizados fizeram várias sugestões sobre o empreendimento. Algumas delas, inclusive, já adotadas pela empresa. A iniciativa contribuiu para manter o seu processo de licenciamento com mais transparência e participação popular. E o adiamento da primeira audiência acabou qualificando e ampliando o debate democrático em torno da sua continuidade operacional.

Foi o que se comprovou em 20 de julho deste ano, mais de três meses depois, na última e ainda mais concorrida audiência pública. Desta vez não houve liminar nem ação popular contra o Estado. Nem contra a empresa.

Lembrando Guimarães Rosa

“Nossa turma doou a outra face. Falou com centenas de pessoas e aprendeu muito. Entre mineração e meio ambiente parece haver um conflito constante. O benefício é difuso e nem sempre fácil de explicar. E o diálogo é a melhor maneira de fazer isso. Esse projeto tentou fazer um trabalho de formiga nessa direção. E vamos continuar tentando fazer o melhor”, afirmou Aldo Souza, diretor de Saúde, Sustentabilidade e Segurança da Anglo American Brasil.

Ele subiu ao palco acompanhado da coordenadora de Comunicação Interna da empresa, Mariana Mello, que deu um recado emocionado: “Essa ação foi vital para o nosso negócio. Uma ação estratégica, pois precisávamos suprir essa demanda e acabamos aprendendo muito com as pessoas. Seguimos o conselho do nosso presidente do Conselho de Administração da Anglo American, Stuart Chambers: ‘Vamos para a rua e conversar com as pessoas. É lá que a gente vai aprender!’. Queria encerrar lembrando uma frase de Guimarães Rosa: ‘Confiança, o senhor sabe, não se tira das coisas feitas ou perfeitas: ela rodeia é o quente da pessoa’.”

 

11. Melhor Empresário

Rubens Menin, fundador da MRV

 

Mineiro de Beagá. Engenheiro e empresário da construção civil. Nosso premiado de 2017, o empresário Rubens Menin, declarou, em abril de 2011, numa entrevista exclusiva à Revista Ecológico, que, se um dia fosse presidente da República, ele “tornaria obrigatório o uso da energia solar em todas as construções doravante no país”.

Seis anos depois dessa emblemática entrevista, mais precisamente no dia 25 de maio de 2017, “Dia da Indústria”, o nosso homenageado estava no Minascentro, recebendo das mãos de Olavo Machado, presidente da Fiemg, o reconhecimento público de seus pares como “o Industrial do Ano”.

Ao agradecer a homenagem, Rubens deu seu recado maior e politizado, que fez jus à sua indicação ao Prêmio Hugo Werneck deste ano: “Em um país como o Brasil, empresa alguma hoje pode se dar ao luxo de querer apenas ganhar dinheiro. Se você não lucrar, é claro, a empresa não cresce. Em um país sofrido como o nosso, temos a obrigação de avançar não apenas no economicamente viável. Mas também no ecologicamente correto e socialmente mais justo.

Devemos contribuir para o desenvolvimento sustentável, que é possível sim”. E falou do seu último sonho, após 37 anos como líder de mercado: até 2022, todas as próximas 200 mil unidades que a sua empresa irá construir serão totalmente equipadas com sistemas para captação de energia solar. “O Brasil que eu sonho vai ser o primeiro país a ter um projeto de instalação de energia fotovoltaica, 100% limpa, vinda do sol, para a habitação popular.

Este é o grande projeto da nossa empresa.” E acrescentou: “Estou falando isso do fundo do meu coração”. O presidente do Instituto MRV, Raphael Lafetá, recebeu a estatueta em nome de Rubens, que também presidente o Conselho de Administração da MRV e estava em uma viagem internacional.

“O Rubens é tudo isso e essa promessa que ele fez será realizada. Agradecemos o prêmio, porque isso estimula todos a fazer o melhor. E também parabenizamos a esses exemplos simples que foram homenageados. É um trabalho de formiga, mas não podemos esquecer que a formiga também é importante para o meio ambiente”, afirmou ele, completando que, na MRV, “sustentabilidade é coisa séria”.

Nos bastidores da premiação

SURPRESA 1

Até Sebastião Salgado e Lélia Wanick se surpreenderam ao saber, antes da cerimônia, que a nova fábrica da Cola-Cola Femsa, recém-implantada na vizinhança da Fundação Dom Cabral, vive o seu revés ambiental. Antes aplaudida por trazer emprego e renda aos municípios de Nova Lima e Itabirito, agora vem sendo temida por ameaçar o esgotamento dos recursos hídricos da região. Além de até hoje não ter plantado uma só árvore dentro e fora de sua planta industrial, a "fábrica mais verde do sistema Coca-Cola no mundo”, como se anuncia, tamanha preocupação se refere ao seu próprio e altíssimo consumo de água: 1,45 litro de água para cada litro de refrigerante produzido.

O silêncio da empresa e a falta de verde continuam insustentáveis.

SURPRESA 2

Esta foi positiva e emocionou a plateia. Partiu do presidente do Instituto MRV, Raphael Lafetá. Antes de subir ao palco e, em nome de Rubens Menin, que estava em viagem ao exterior, receber a estatueta de “Melhor Empresário do Ano”, ele testemunhou a premiação mais festejada da noite: a vitória do Projeto Tiradentes Lixo Zero na Categoria “Destaque Municipal", tendo à frente da entidade de apoio aos catadores a ambientalista Andrea Dirickson, acompanhada do presidente da Cooperativa Tiradentes Recicla, Márcio José. Ambos agradeceram, é claro, a distinção. Mas lamentaram o fato de recolherem tantas garrafas de vidro, sem terem ainda uma máquina para triturá-las e gerar negócio e renda, como exige o mercado de reciclagem.

O que Raphael fez?

Escutou tudo. Pediu permissão para quebrar o protocolo. E quando terminou sua fala de agradecimento, acrescentou na lata, para o delírio da torcida da Associação presente: “Sustentabilidade pra gente é na prática. Vocês já podem contar desde já, com a MRV, na compra dessa máquina!”

E de quebra, além da simpatia e intensidade dos aplausos que causou, ainda ganhou uma camisa "Sou Ecológico" em preto e branco, com o símbolo do Atlético. Com direito a levar uma outra para o presidente vencedor, igualmente atleticano.

A Revista Ecológico, que também tem a camisa “Sou Ecológico” em azul e branco, do Cruzeiro, e em verde, do América, aplaude e agradece a todos os premiados.

Ano que vem tem mais!

 

Mensagem final

“Precisei de um fim de semana para absorver toda a energia positiva e a emoção que esta edição do Prêmio Hugo Werneck nos proporcionou. Em tempos de tanta desilusão, conhecer, reconhecer e valorizar cidadãos e organizações que buscam fazer a diferença no mundo foi uma superdose de esperança!

A presença do casal Sebastião e Lélia imprimiu marcas de generosidade, humildade e senso de propósito. No meu entendimento, essa foi a grande mensagem da premiação. Foi realmente emocionante. Parabéns pela iniciativa que a Revista Ecológico lidera com tanta dedicação e amor. É muito bom ter a oportunidade de conexão com ideias inovadoras e atitudes de ousadia.

Marina Spínola, gerente-executiva de Comunicação Corporativa da Fundação Dom Cabral Vós sois o Sal da Terra” – disse Jesus. Sozinho, o sal significa muito pouco. Mas à medida que se relaciona com os outros alimentos, sua presença afeta tudo. Não podemos vê-lo, mas sabemos que está ali, porque sua força se faz sentir.

Tal como a força do querer bem este que é o mais bonito dos planetas. Nosso muito obrigado! Equipe da Ecológico.

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