Quarta, 18 de abril de 2018

Ãgua e prefeitos trabalhando juntos



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Fatigados por tanta pressão – que vai do assoreamento, passa pela intensa carga de retirada de suas águas para abastecimento das cidades e para a agricultura, ao despejo de descargas de rejeitos industriais de toda natureza e de esgotamento sanitário de grande parte das cidades brasileiras, os rios, grandes ou pequenos, pedem socorro. No mundo todo.

Autoridades locais e regionais são os principais atores da gestão das águas nos municípios: elas reúnem órgãos articuladores de políticas socioambientais e representam o interesse público. Por isso, precisam planejar em médio e longo prazo ações de conservação e manejo dos recursos hídricos, pois podem agir como verdadeiros convocadores de mudanças. E comunicar o verdadeiro valor da água para toda a população é tema a ser difundido no planeta. Todos devem participar: empresa que distribui e trata a água, governo local, indústria, setor produtivo e comunidade.

Essas foram algumas das conclusões do painel “Reflexões: como águas e prefeitos podem trabalhar juntos”. Daiana Macuaba, diretora da Companhia Nucana Water, na Zâmbia, ressaltou a importância de empresas distribuidoras de água serem transparentes e colaborativas nas cidades onde atuam.

“Nossos clientes de consumo são os cidadãos. Por isso, precisamos convocar todos a participarem do debate e do planejamento que envolve os recursos hídricos. A comunicação tem papel fundamental nesse processo, pois é preciso disponibilizar informações”, comentou, citando a importância de se comunicar a previsão adequada da água nas cidades.

“Essa foi uma estratégia usada de forma inteligente pelo governo da Catalunha, na Espanha, que enfrentou uma seca extrema, recentemente. Com comunicação verdadeira, eles conseguiram sensibilizar a população a gastar menos de 100 litros de água/pessoa/dia. As pessoas entenderam como deviam consumir e economizar os recursos e a campanha funcionou.”

Nesse contexto, é importante ressaltar o papel do cidadão no local onde vive e sua responsabilidade frente a questões como escassez de água e produção de resíduos. Essas não são responsabilidades apenas dos governos, mas de todos. E é necessário que população e dirigentes locais reflitam sobre a água e seus usos: é aceitável pensar que diante da falta de água para tantos povos no mundo ainda usamos água tratada para jogar no jardim, lavar a calçada ou limpar o carro?

Educação ambiental

Luciano Pinheiro, prefeito de Jacobina, no Nordeste baiano, frisou os anos de mau uso da água e a necessidade de se criar políticas públicas conjuntas para as cidades. “Precisamos compreender melhor o ciclo da água para planejarmos ações efetivas. Também é de extrema importância preparar as novas gerações para essa realidade, por meio da educação ambiental.”

O caso da dramática seca enfrentada pela Cidade do Cabo, na África do Sul, foi demonstrado num vídeo no qual o prefeito, Ian Nielson, falava abertamente às pessoas: “Depois do declínio de nossas reservas e lagos, reduzimos o consumo a 25l/pessoa/dia. A abordagem foi conservadora e adotada para um cenário catastrófico. Em dois meses, conseguimos sair do consumo de 1,2 milhão litros/dia para 900 mil litros/dia, uma economia considerável.”

Nielson frisou que o resultado foi fruto de uma gestão e de uma comunicação fortes. A maior lição da crise hídrica em Cidade do Cabo? É necessário trabalhar com fontes diversificadas de água. “Não dá para centrar apenas na água superficial. Por isso, temos investido em plantas de dessalinização e água subterrânea. Mas sem a mudança de hábito do usuário, nada disso tem futuro. O cidadão precisa calcular quanto gasta de água por dia e passar a economizar. Não adianta o governo impor tarifas punitivas, limitar o volume de água para cada um ou aplicar multas. É preciso transformar o comportamento do indivíduo”, comentou Nielsen.

Lagoas do norte

Firmino Filho, prefeito de Teresina (PI), mostrou como um projeto de infraestrutura ambiental está transformando a vida de 100 mil habitantes numa região pobre da cidade, que concentra 13 bairros. Convivendo com inundações frequentes de diques construídos para conter possíveis cheias dos rios Parnaíba e Poti, condições precárias de habitação, a comunidade sofria ainda com poucas oportunidades de renda.

Pela primeira vez, Teresina firmou parceria com um organismo internacional, o Banco Mundial, e fez um empréstimo de US$ 33 milhões para avançar no projeto “Lagoas do Norte”. “Partimos do saneamento inicial, coletando e tratando o esgoto; fizemos a melhoria sanitária nas residências de baixa renda; reassentamos 500 pessoas que viviam em áreas de risco; demos acesso a saneamento para 25 mil pessoas; elaboramos e executamos o plano diretor, que previu a drenagem urbana nessa área; e construímos um parque para lazer e fonte de renda para as famílias, além de termos transformado os diques em lagoas. Precisamos de continuidade nos projetos, independentemente das gestões”, contou Firmino Filho.

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