Quarta, 18 de abril de 2018

Quando e onde a natureza é a solução



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Desde 1979, Itaipu promoveu o plantio de mais de 44 milhões de mudas nas margens brasileira e paraguaia de seu reservatório. Foto: Divulgação

Desde 1979, Itaipu promoveu o plantio de mais de 44 milhões de mudas nas margens brasileira e paraguaia de seu reservatório. Foto: Divulgação

Em 2003, Itaipu Binacional, maior geradora de energia limpa e renovável do planeta, buscou na natureza inspiração para desenvolver uma iniciativa socioambiental exemplar em melhores práticas de gestão da água. Foi assim que nasceu o Programa Cultivando Água Boa (CAB), que hoje já abrange 65 projetos e ações desenvolvidos na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná, em 29 municípios da área de influência do lado brasileiro de Itaipu.

Por meio de um processo integrado, participativo e de responsabilidade compartilhada – que envolve governos, empresas e atores locais, como produtores rurais, comunidades indígenas e catadores de materiais recicláveis–, o programa promove a gestão sustentável da bacia hidrográfica a partir de processos naturais.

O sucesso do programa foi tão grande que a iniciativa foi reconhecida no Prêmio Água para a Vida da ONU em 2015, na categoria Melhores Práticas em Gestão da Água. O CAB também foi homenageado no Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, no mesmo ano, por sua contribuição para a conservação do mais importante recurso natural do planeta.

A bem-sucedida gestão compartilhada das águas do Rio Paraná por Itaipu, mostrou o seu diretor de Coordenação Executiva, Pedro Domaniczky, continua gerando benefícios igualmente para o Brasil e o Paraguai: “Estamos localizados na Bacia do Prata, uma das maiores do Hemisfério Sul, onde temos sob nossos pés o Aquífero Guarani, uma das maiores reservas subterrâneas de água doce do planeta. É essa a nossa responsabilidade com as gerações futuras. Em 45 anos de lições apreendidas, podemos dizer que o Prata é um rio que une dois países, e não apenas gera energia, mas desenvolvimento, conhecimento e sustentabilidade juntos. Nossa visão é a de que não são os governos os principais atores de um território hídrico. Mas as pessoas, como seus necessários protagonistas”.

O Cultivando Água Boa é exemplo de como tecnologias que melhoram a quantidade e a qualidade da água podem ser criadas também a partir da reprodução de processos de comunidades que vivem e atuam diretamente na natureza. É o que também mostra o “Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018”, que aborda a efetividade das “Soluções Baseadas na Natureza (SbNs)” para a gestão da água.

Atualmente, estima-se que 3,6 bilhões de pessoas (quase metade da população mundial) vivem em áreas que apresentam uma potencial escassez de água por pelo menos um mês por ano, e essa população poderá aumentar para algo entre 4,8 bilhões e 5,7 bilhões até 2050. Nesse contexto, utilizar as SbNs para gerenciar a manutenção e a disponibilidade de água é mais que urgente.

“Sem uma adoção mais rápida das SbNs, a segurança hídrica continuará a diminuir, e provavelmente de forma rápida. Elas oferecem meios essenciais para ir além das abordagens convencionais. No entanto, a necessidade e as oportunidades para a ampliação da implementação delas continuam sendo subestimadas”, ressalta o relatório, produzido em parceria com outras 31 instituições do sistema da ONU e 39 parceiros internacionais que formam a ONU Águas (UN Waters).

 

Condições favoráveis

A resposta para os desafios que envolvem a criação de condições favoráveis para que as SbNs sejam adotadas por governos é que elas necessariamente não exigem recursos financeiros adicionais. “Normalmente, elas envolvem o seu redirecionamento ou o uso mais efetivo dos financiamentos já existentes. Investimentos em infraestrutura verde estão sendo mobilizados graças ao crescente reconhecimento do potencial dos serviços ecossistêmicos em oferecer soluções sistêmicas que tornam os investimentos mais sustentáveis e mais custo-efetivos no longo prazo”, garante o relatório.

Para Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, é preciso constantemente buscar e implementar soluções para a gestão da água a fim de superarmos os desafios de segurança hídrica. “Muitas pessoas no mundo vão entrar em uma zona de risco em pouco tempo. Isso afeta a paz mundial. Não temos água suficiente para sete bilhões de pessoas. E, se não fizermos nada, cinco bilhões delas estarão vivendo em áreas com baixo acesso à água em 2050”, alerta.

Entenda Melhor

A demanda mundial por água tem aumentado a uma taxa de aproximadamente 1% por ano, devido ao crescimento populacional, ao desenvolvimento econômico e às mudanças nos padrões de consumo, entre outros fatores, e continuará a aumentar de forma significativa durante as próximas duas décadas.

As SbNs apoiam uma economia circular, que é restauradora e regenerativa por sua própria essência, e promove uma maior produtividade dos recursos, visando reduzir os desperdícios e evitar a poluição, inclusive por meio do reúso e da reciclagem.

Também apoiam os conceitos de crescimento e de economia verdes, os quais promovem o uso sustentável dos recursos naturais e aproveitam os processos naturais como fundamento das economias. Essa utilização das SbNs no setor hídrico também gera cobenefícios no campo social, econômico e ambiental, incluindo a melhoria da saúde humana e dos meios de subsistência, o crescimento econômico sustentável, empregos dignos, a reabilitação e a manutenção de ecossistemas, além da proteção/desenvolvimento da biodiversidade.

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