Segunda, 06 de novembro de 2017

O avatar mineral 2?

Pergunta feita pela mineração sobre o porquê das lágrimas de Gisele Bündchen contra o projeto de lei que extinguia Renca, derramadas durante o Rock in Rio 2017, faz recrudescer o movimento ambientalista mundial, à lembrança do filme-libelo de James Cameron

Hiram Firmino - redacao@revistaecologico.com.br



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O choro amazônico de Gisele, na abertura
do Rock in Rio: clamor pela natureza

O choro amazônico de Gisele, na abertura do Rock in Rio: clamor pela natureza

Pergunta feita pela mineração sobre o porquê das lágrimas de Gisele Bündchen contra o projeto de lei que extinguia Renca, derramadas durante o Rock in Rio 2017, faz recrudescer o movimento ambientalista mundial, à lembrança do filme-libelo de James Cameron
 

Duas décadas depois de ter ido navegar na eternidade, o oceanógrafo francês Jacques Cousteau foi novamente lembrado na Terra. Tudo por causa de uma mensagem que ele deixou e nunca esteve tão atual quanto agora, momento em que o Brasil rediscute a exploração mineral na última grande floresta tropical do planeta.

Mais exatamente na Reserva Nacional do Cobre e Associados, a polêmica Renca, onde apenas 0,33% da Floresta Amazônica se acha desmatada: “A guerra do futuro” – disse Cousteau – “será entre os que defendem a natureza e os que a destroem. E a Amazônia vai ficar no olho do furacão. Cientistas, políticos e artistas desembarcarão aqui para ver o que está sendo feito com a floresta”.

Essa previsão do velho e sábio “Guardião dos Mares”, como ele ficou conhecido, também nos traz outra lembrança emblemática: “Avatar”, o ecologicamente impactante e contundente filme de ficção científica de 2009, escrito e dirigido por James Cameron. Todos se lembram. A história que reacendeu o debate da sustentabilidade e cativou milhares de pessoas em todo o mundo, tornando-as também ambientalistas e amantes da natureza, se passava no ano 2154 depois de Cristo. Pandora, uma das luas de um planeta distante, era habitada por uma espécie de humanoides adaptada à sua natureza, chamada Na’vi.

Qualquer semelhança com a nossa realidade, com os nossos povos da floresta, não é mera coincidência. O povo Na’vi venerava a deusa da vida, Eywa. E, por isso, vivia em harmonia com a Mãe Terra, simbolizada por uma colossal Árvore-Mãe que o alimentava, nutrindo-o de tecnologia limpa, energia e luz.

Já os humanos, colonizadores de Pandora, consideravam os Na’vi primitivos. E, por essa razão, não tinham uma comunicação respeitosa e pacífica com eles. Não entendiam a cultura local de valorização, troca e sentimento profundo com a natureza exuberante que dava vida e recursos ambientais para sobrevivência e bem-estar de seus habitantes.


 

Em vez de amar e interagir de maneira sustentável com a Mãe Natureza, os humanos queriam apenas explorar, e de maneira predatória, como mostra o filme, as reservas de um mineral tão precioso que existia em Pandora. Tal como o minério de ferro é estratégico hoje para a sobrevivência e o desenvolvimento tecnológico da humanidade.

Tratava-se de mineral que existia somente ali, justamente debaixo da Árvore-Mãe dos Na’vi. Tal como, em paralelo e separada por 4,4 anos-luz de Pandora, encontra-se a Renca, hoje no subsolo mais preservado da Amazônia.

É triste a ação criminosa do garimpo ilegal que o presidente Michel Temer permite no local, tal como os governos Lula e Dilma também fizeram, somado ao sucateamento histórico do Ministério do Meio Ambiente, Ibama, Instituto Chico Mendes e Funai. Justamente os órgãos que deveriam ser de ponta, aparelhados humana e tecnicamente para o desafio do desenvolvimento sustentável, incluindo a mineração, na delicadeza do bioma amazônico.

Voltando ao ano 2017, Planeta Terra, em tempos de mudanças climáticas. Para explorar os diversos minerais presentes na Renca, se permitido for, como aposta o Ministério de Minas e Energia e adverte o do Meio Ambiente, a indústria da mineração terá que tombar e fazer morrer 21% da Grande Floresta ali existente, para a tragédia biodiversa de todos os seus habitantes, os chamados povos da floresta, humanos ou não.

Um desmatamento amazônico de quase um quinto da área total da Renca, equivalente ao tamanho do estado do Espírito Santo. Imagine o tamanho e as consequências, em efeito dominó, desse deserto artificial e nada ecológico, justamente onde a natureza não o concebeu?

Será por isso que a top model e ambientalista brasileira Gisele Bündchen chorou no Rock in Rio, representando as lágrimas não apenas dos artistas e ambientalistas? Mas, doravante, vide o recuo perigoso de Temer, as lágrimas de todo cidadão consciente do estado ambiental do mundo? De toda e qualquer pessoa hoje transformada também em um novo defensor da natureza e jornalista ao mesmo tempo, graças a um toque no celular em punho?

Por que a mineração, ainda não inteligentemente amante da natureza e, por isso, raramente sustentável, ainda é tão malvista e refutada pela opinião pública, se todos nós – sem exceção – não sabemos mais viver sem os seus produtos em nossa rotina? Seria a falta de comunicação, de amor, dever e gratidão à natureza que ela explora, ou tudo isso junto, a exemplo do que aconteceu em Pandora, cujo final, todos se lembram, foi a revolta da natureza contra a espécie humana?

É o que a Revista Ecológico continua discutindo nesta edição, com a cobertura do 17º Congresso Brasileiro de Mineração e da Exposição Internacional da Mineração (Exposibram) 2017 – realizados entre 18 e 21 de setembro último, na capital mineira. Foi onde, com o tema: “Um olhar sobre o futuro da Mineração”, o setor fez, de maneira histórica e alvissareira, o seu primeiro mea-culpa público com relação à questão ambiental e de comunicação. 

Fez mais. Mostrou outra performance de como a atividade que, com seu poder econômico e conhecimento técnico, inegavelmente mais preserva o que ainda nos resta de natureza, no cumprimento das exigências do licenciamento (vide a Floresta Amazônica que só existe hoje no Sul do Pará, graças ao Projeto Carajás; assim como a Mata Atlântica do Jambreiro, na Grande Belo Horizonte, pelo Projeto Águas Claras).

E mostrou que, embora bem menos do que os ambientalistas defendem, ainda recupera consideravelmente o que degrada.

O único desperdício de oportunidade, graças talvez a uma nesga de arrogância que ainda nubla a visão maior do setor, foi o Congresso Nacional não ter convidado a imprensa verde nem as ONGs ambientais do país para participarem do debate, em plena discussão mundial sobre a Renca.

A Ecológico, inclusive, foi convidada a se retirar de uma das plenárias da Exposibram deste ano. O setor muito menos soube comunicar, na opinião dos ambientalistas clássicos e não radicais, os avanços da recuperação socioambiental em curso no Rio Doce, por meio da Fundação Renova, quase dois anos após a tragédia de Mariana, de onde as Minas Gerais buscam o mar ainda poluído do Espírito Santo.

 

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