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Segunda, 21 de maio de 2018

Zedoária

Marcos Guião (*) - redacao@revistaecologico.com.br



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Zedoária -Curcuma zerdoaria

Zedoária -Curcuma zerdoaria

Já tava beirando o canto do fogão a lenha pra escapulir do frio, quando a cachorrada deu sinal e as palmas estralaram dando vestígio de gente diferençada na porteira. Depois de acender a luz da varanda, enfiei-me numa blusa e dei saída convidando pra entrar fosse lá quem fosse. Pra minha surpresa, adentra na sala uma bonita mulher de cabelos claros, num jeans surrado, blusa amarela e perfume suave. Assuntei ser ela a Sofia, filha mais velha de Dr. Herculano, fazendeiro que fazia divisa com as terras de Ademar de Cida.

Com a voz macia e quase rouca, ela contou que tinha vindo com os filhos pra fazenda na intenção de aproveitar o feriado, mas durante sua fala, várias vezes o assunto foi entrecortado por fungadas e assopros num lenço já encharcado.

“Desde que cheguei na fazenda ontem à noite, comecei a sentir o corpo dolorido e hoje minha cabeça tá pesada e tô espirrando alucinadamente. Foi o Divandro lá da padaria que me disse pra te procurar. Por favor, preciso que me ajude...”

Fiz ainda algumas perguntas e encaminhei a prosa pra atenção sobre a entrada do outono, quando por mais das vezes se abre caminho pra uma tanteira de moléstias respiratórias. O frio aponta no final da tarde, a gente se alembra daquela blusa felpuda e gostosa que tá guardada no armário desde o ano anterior e basta entrar nela pra começar uma espirração comprida.

Ambiente fechado associado a baixa umidade do ar, situação típica do outono, é caminho certo pros quadros alérgicos. Ainda lembrei a necessidade de colocar os cobertores e lençóis pra tomar sol antes de usá-los. Ela me olhava com os olhos arregalados e confessou ter mesmo usado uma blusa que tava no armário da fazenda há meses, além de ter fechado a casa pra manter o frio de fora e ter dormido com a roupa de cama encontrada nos armários. Enfim, enfiou o pé na jaca...

Fui buscar nos meus guardados de plantas algo que pudesse trazer alívio na situação e topei com a zedoária (Curcuma zedoaria), planta de origem asiática da mesma família do gengibre, que solta belas folhas de verde intenso no início da primavera. E, pasmem, tem rizomas de cor azulada! Seu aroma é canforado e o sabor é levemente amargo, atuando no aumento do sistema imunológico, eliminando os sintomas das alergias respiratórias e acaba com as dores no corpo derivadas da gripe. Muita gente se serve dela pra situações de azia, úlceras gástricas, má digestão e mau hálito, além de gases do estômago e intestino. Dei-lhe zedoária em pó, explicando pra fazer uso de uma colherinha diluída numa xícara de água quente três vezes ao dia.

Ela se foi muito agradecida e acabei por me esquecer do assunto. Meses depois andando por uma avenida da capital, uma mulher elegante me parou na rua pra agradecer a ajuda “daquela noite lá na fazenda”. Foi um custo pra lembrar, mas ali entendi que quem tá no sofrimento não se esquece de quem lhe ajudou.

Até a próxima lua! 

(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

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